segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Review: 👻 Vast Pyre - 'Vast Pyre' (2024) 👻

★★★★

De Eisenach – cidade localizada no centro da Alemanha – chegam-nos as encorpadas, vampíricas, tirânicas e malfadadas ressonâncias do tempestuoso tridente Vast Pyre com a sísmica detonação do seu homónimo álbum de estreia, editado pela italiana Argonauta Records nos formatos CD e digital. Prostrados, embriagados, de pálpebras tombadas e espírito enlutado sopitamos à exposição da nefasta radiação expelida pelas fumarentas narinas de um monolítico, pantanoso, resinoso e esfíngico Stoner Doom de forte fragância psicotrópica e sónica propulsão cósmica. Com inspiração colhida nos universos esotéricos de Electric Wizard, Sleep, MonolordUfomammut e Spelljammer, a massiva, altiva, abrasiva e sinistra sonoridade de ‘Vast Pyre’ agiganta-se numa predatória, mastodôntica e intimidante avalanche que nos persegue, atropela e sepulta nas abissais profundezas de uma herética negrura que circunda e sufoca todas as chamas da nossa religiosidade. Uma mesmérica, transformadora e profética hipnose que nos mumifica, cega, aterroriza e carrega por paisagens demoníacas, derrotadas, amaldiçoadas e distópicas, esvaziadas de vida e esperança, onde a diáfana luz jamais ousa tocar e a fantasmagórica bruma vagueia sem nunca dispersar. São 50 minutos de uma chamejante, viscosa e impactante pretura que nos enlameia e incendeia sem misericórdia. Sombreiem-se numa guitarra arrogante que se avulta em rastejantes, hipnóticos, despóticos e intrigantes riffs – escaldados a queimante, cáustica e urticante distorção – de onde são chorados uivantes, ácidos, pálidos e penetrantes solos, estremeçam à intensa boleia de uma sísmica bateria explodida a uma ritmicidade agressiva, empolada, musculada e altiva, e vagueiem de olhos vendados, passos hesitantes e respiração travada pelas arrasadas planícies de ‘Vast Pyre’ farolizados pelos liderantes vocais – ora límpidos, azedos e destemperados (disseminados por um eco espectral), ora escarpados, sujos e gritados (de temperatura infernal). Este é um álbum situado entre a açucarada melancolia e a entorpecida euforia. Um trabalho hermético, sisudo, soturno e dramático – pesada e vagarosamente locomovido – que nos agarra, sacode e implode. A imponente obra visual que dá rosto a este registo verdadeiramente avassalador dos germânicos aponta os seus créditos autorais ao inconfundível e renomado pintor polaco ZdzisÅ‚aw BeksiÅ„ski que a criara em 1972. Desventurem-se pelas tumbas cósmicas de Vast Pyre e encarvoem-se na sua asfixiante, claustrofóbica e atemorizante obscuridade.

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