De Eisenach –
cidade localizada no centro da Alemanha – chegam-nos as encorpadas, vampÃricas,
tirânicas e malfadadas ressonâncias do tempestuoso tridente Vast Pyre
com a sÃsmica detonação do seu homónimo álbum de estreia, editado pela italiana
Argonauta Records nos formatos CD e digital. Prostrados, embriagados, de
pálpebras tombadas e espÃrito enlutado sopitamos à exposição da nefasta
radiação expelida pelas fumarentas narinas de um monolÃtico, pantanoso,
resinoso e esfÃngico Stoner Doom de forte fragância psicotrópica e sónica
propulsão cósmica. Com inspiração colhida nos universos esotéricos de Electric
Wizard, Sleep, Monolord, Ufomammut e Spelljammer, a massiva,
altiva, abrasiva e sinistra sonoridade de ‘Vast Pyre’ agiganta-se numa predatória,
mastodôntica e intimidante avalanche que nos persegue, atropela e sepulta nas abissais
profundezas de uma herética negrura que circunda e sufoca todas as chamas da
nossa religiosidade. Uma mesmérica, transformadora e profética hipnose que nos mumifica,
cega, aterroriza e carrega por paisagens demonÃacas, derrotadas, amaldiçoadas e
distópicas, esvaziadas de vida e esperança, onde a diáfana luz jamais ousa
tocar e a fantasmagórica bruma vagueia sem nunca dispersar. São 50 minutos de
uma chamejante, viscosa e impactante pretura que nos enlameia e incendeia sem
misericórdia. Sombreiem-se numa guitarra arrogante que se avulta em
rastejantes, hipnóticos, despóticos e intrigantes riffs – escaldados a
queimante, cáustica e urticante distorção – de onde são chorados uivantes,
ácidos, pálidos e penetrantes solos, estremeçam à intensa boleia de uma sÃsmica bateria explodida a uma ritmicidade agressiva, empolada, musculada e altiva, e vagueiem
de olhos vendados, passos hesitantes e respiração travada pelas arrasadas planÃcies de ‘Vast Pyre’ farolizados
pelos liderantes vocais – ora lÃmpidos, azedos e destemperados (disseminados
por um eco espectral), ora escarpados, sujos e gritados (de temperatura
infernal). Este é um álbum situado entre a açucarada melancolia e a entorpecida
euforia. Um trabalho hermético, sisudo, soturno e dramático – pesada e
vagarosamente locomovido – que nos agarra, sacode e implode. A imponente obra visual
que dá rosto a este registo verdadeiramente avassalador dos germânicos aponta os seus créditos
autorais ao inconfundÃvel e renomado pintor polaco ZdzisÅ‚aw BeksiÅ„ski
que a criara em 1972. Desventurem-se pelas tumbas cósmicas de Vast Pyre e
encarvoem-se na sua asfixiante, claustrofóbica e atemorizante obscuridade.
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