Depois do
impactante álbum de estreia ‘Hic Sunt Moundrages’ (lançado no Outono de
2022 e aqui examinado), os irmãos Goellaën reaparecem novamente
debaixo dos holofotes com o tão aguardado arremesso do seu segundo trabalho de
longa duração, denominado ‘Deux’ e editado sob as formas LP, CD e
digital através da parceria entre a espanhola Spinda Records e a
britânica Stolen Body Records. Arquitectado e edificado entre 2022 e
2024, esta nova obra do irreverente power-duo francês Moundrag traz-nos
a aparatosa, faiscante e gloriosa combinação entre um poderoso, dominante,
exuberante e majestoso Heavy Prog de rutilante brilho vintage e um musculoso,
melódico, dramático e vistoso Hard Rock de estilosa roupagem clássica.
De bussola apontada à dourada década de 1970 onde se escutam e identificam ecos
de bandas lendárias como Rush, Deep Purple, King Crimson, Atomic Rooster,
Emerson, Lake & Palmer, Uriah Heep e a suíça Island,
assim como partilhando a genética de referências da contemporaneidade como os
escandinavos Hällas, Horisont, Hypnos e Svartanatt e
os canadianos Freeways, a sonoridade ostentosa, ornamentada, requintada e
cerebral de ‘Deux’ – emoldurada por uma estética medieval e oxigenada
por uma ambiência cerimonial –, tem a capacidade de nos situar nos enredos de
fascinantes narrativas fabulares trazidas do universo ancestral. São 37 minutos
impecavelmente musicados por virtuosas, arrogantes, opulentas e grandiosas composições
que nos sombreiam, impressionam e conquistam. Baloiçando entre portentosas cavalgadas
de esporas ensanguentadas e lamuriosas baladas de sentimentalismo transbordante,
este irretocável registo de Moundrag é uma iguaria de classe gourmet, capaz de
satisfazer os desejos de requinte dos ouvidos mais exóticos e exigentes. Sem menosprezar
as duas mãos cheias de membros adicionais que juntos conferem a este sublime ‘Deux’
toda uma mística aura orquestral, o reinante protagonismo está naturalmente
apontado aos irmãos Camille e Colin – modistas desta obra verdadeiramente
escultural – que escorraçam todos os seus tormentos ao volante de um prestigioso
órgão – repleto de um carisma litúrgico – que se agiganta e meneia em formosos,
enfáticos, enigmáticos e imperiosos bailados, uma bateria assombrosa que se
incendeia em extravagantes, alucinantes, diabólicas e circenses acrobacias
jazzísticas, e duas vozes aparentadas e entrelaçadas de tez mélica, harmoniosa, sedosa e poética.
Este é um álbum erudito, temperado a fineza, destreza e delicadeza. Um registo imensamente incentivante e eloquente, portador de uma esdrúxula elegância que não deixará ninguém
indiferente. Deixem-se inundar e enfeitiçar pela musicalidade excepcional deste
talentoso dueto francês que preenche qualquer palco. De destacar, por fim, que este
cabalístico ritual vai andar em digressão e exposição europeia durante a
primeira metade de 2026, e Portugal conta com duas datas confirmadas (Porto e Barcelos).
Imperdível.
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