Na iminência de
completar quarenta anos de existência, a lendária formação desértica Yawning
Man acaba de editar o seu 10º álbum intitulado ‘Pavement
Ends’, lançado nos formatos LP, CD e digital com o carimbo da companhia
discográfica romana Heavy Psych Sounds. Depois de o anterior ‘Long
Walk of the Navajo’ (aqui descrito e elogiado) ter contado com o
baixista convidado Billy Cordell, este novo trabalho assinala o regresso
do cofundador Mario Lalli ao domÃnio das quatro cordas, perfilando-se
lado a lado com o seu parceiro de longa data Gary Arce na guitarra e com
o baterista Bill Stinson que desde há dez anos empunha as baquetas da histórica
banda sediada na cidade californiana de Palm Desert. Num equilÃbrio circense
entre um arenoso, radioso, fogoso e exótico Desert Rock de trajes
étnicos e um melancólico, expansivo, emotivo e cinematográfico Post Rock
de condimentos sidéricos, a árida, mÃstica, relaxada e atmosférica sonoridade de
‘Pavement Ends’ convida o ouvinte para uma visita guiada (e soberbamente
musicada) pela inefável, transformadora e libertadora majestosidade do deserto
californiano. Reflexivo, alucinógeno, etéreo e lenitivo, este novo registo de Yawning
Man tem a capacidade de sedar, adormecer, embevecer e estacionar o ouvinte
num perfeito estádio de sonambulismo. Sobrevoando um incomensurável tapete de
areias finas e bronzeadas onde se erguem imponentes Yucca brevifolia’s
(árvores de Josué) que se espreguiçam na vertiginosa direcção de um imenso e lÃmpido
céu azul turquesa, farolizado por um endeusado Sol de aquecida e amarelecida
fulgência, e repousam idosas e monolÃticas montanhas rochosas que recortam o
intangÃvel horizonte, observamos – atentos e fascinados – todo o divino esplendor
desértico através do olhar vigilante de uma águia Dourada. São 38 minutos de
constante encandeamento. De lucidez embaciada, olhar selado, sorriso desenhado
no rosto e cabeça pendulada de ombro em ombro, vagueamos, despreocupada e livremente,
pela hipnótica, deslumbrante, apaixonante e psicotrópica musicalidade de ‘Pavement
Ends’ à irresistÃvel boleia de uma guitarra ácida de enfeitiçantes, intoxicantes,
repetitivos e ecoantes riffs que se encavalitam entre si numa delirante escadaria
em espiral, e solos uivantes, escorregadios, fugidios e esvoaçantes que se
multiplicam e ressoam pela infinidade fora, um baixo viril de possantes, carnudas,
empoladas e pulsantes linhas que se desenham a negrito, e uma bateria tribalista
de simétricos, galopantes, cativantes e magnéticos ritmos que tiquetaqueiam com
irretocável precisão toda esta maravilhosa digressão pelos longos e sinuosos
desfiladeiros da nossa alma. A vistosa ilustração que embeleza o suporte fÃsico
do álbum aponta os seus créditos de autor à talentosa artista local Diane
Bennett. De essência puramente instrumental, ‘Pavement Ends’ é uma
obra sacramental e regeneradora que nos desobstrói a canalização sensorial e
purifica o universo espiritual. Um registo verdadeiramente sensacional que nos
desamarra da existência artificial e conduz ao paraÃso natural. Banhem-se na
sua luzência seráfica.

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