terça-feira, 25 de novembro de 2025

Review: 🦅 Yawning Man - 'Pavement Ends' (2025, Heavy Psych Sounds) 🦅

★★★★

Na iminência de completar quarenta anos de existência, a lendária formação desértica Yawning Man acaba de editar o seu 10º álbum intitulado ‘Pavement Ends’, lançado nos formatos LP, CD e digital com o carimbo da companhia discográfica romana Heavy Psych Sounds. Depois de o anterior ‘Long Walk of the Navajo’ (aqui descrito e elogiado) ter contado com o baixista convidado Billy Cordell, este novo trabalho assinala o regresso do cofundador Mario Lalli ao domínio das quatro cordas, perfilando-se lado a lado com o seu parceiro de longa data Gary Arce na guitarra e com o baterista Bill Stinson que desde há dez anos empunha as baquetas da histórica banda sediada na cidade californiana de Palm Desert. Num equilíbrio circense entre um arenoso, radioso, fogoso e exótico Desert Rock de trajes étnicos e um melancólico, expansivo, emotivo e cinematográfico Post Rock de condimentos sidéricos, a árida, mística, relaxada e atmosférica sonoridade de ‘Pavement Ends’ convida o ouvinte para uma visita guiada (e soberbamente musicada) pela inefável, transformadora e libertadora majestosidade do deserto californiano. Reflexivo, alucinógeno, etéreo e lenitivo, este novo registo de Yawning Man tem a capacidade de sedar, adormecer, embevecer e estacionar o ouvinte num perfeito estádio de sonambulismo. Sobrevoando um incomensurável tapete de areias finas e bronzeadas onde se erguem imponentes Yucca brevifolia’s (árvores de Josué) que se espreguiçam na vertiginosa direcção de um imenso e límpido céu azul turquesa, farolizado por um endeusado Sol de aquecida e amarelecida fulgência, e repousam idosas e monolíticas montanhas rochosas que recortam o intangível horizonte, observamos – atentos e fascinados – todo o divino esplendor desértico através do olhar vigilante de uma águia Dourada. São 38 minutos de constante encandeamento. De lucidez embaciada, olhar selado, sorriso desenhado no rosto e cabeça pendulada de ombro em ombro, vagueamos, despreocupada e livremente, pela hipnótica, deslumbrante, apaixonante e psicotrópica musicalidade de ‘Pavement Ends’ à irresistível boleia de uma guitarra ácida de enfeitiçantes, intoxicantes, repetitivos e ecoantes riffs que se encavalitam entre si numa delirante escadaria em espiral, e solos uivantes, escorregadios, fugidios e esvoaçantes que se multiplicam e ressoam pela infinidade fora, um baixo viril de possantes, carnudas, empoladas e pulsantes linhas que se desenham a negrito, e uma bateria tribalista de simétricos, galopantes, cativantes e magnéticos ritmos que tiquetaqueiam com irretocável precisão toda esta maravilhosa digressão pelos longos e sinuosos desfiladeiros da nossa alma. A vistosa ilustração que embeleza o suporte físico do álbum aponta os seus créditos de autor à talentosa artista local Diane Bennett. De essência puramente instrumental, ‘Pavement Ends’ é uma obra sacramental e regeneradora que nos desobstrói a canalização sensorial e purifica o universo espiritual. Um registo verdadeiramente sensacional que nos desamarra da existência artificial e conduz ao paraíso natural. Banhem-se na sua luzência seráfica.

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