É de origem
portuguesa uma das maiores surpresas sonoras de 2025. Sendo eu um indefectível entusiasta
do Jazz Fusion gerado e electrificado na dourada década de 1970, e que há
muito lamentava tratar-se de um subgénero musical sem representação nacional nos tempos que correm,
foi boquiaberto, de olhar incendiado e ouvidos salivantes que experienciei o espantoso
álbum de estreia de Black Pig Meat – talentoso quarteto domiciliado na
cidade de Coimbra – denominado ‘Symbiotic Dream’ e editado pela
influente companhia discográfica lusitana Raging Planet através dos
formatos CD e digital. Baloiçando entre um atmosférico, estético, cinematográfico
e sedutor Contemporary Jazz a fazer recordar as agradáveis paisagens
nevadas de John Abercrombie, Bill Frisell, Jakob Bro e Edena
Gardens, e um cerebral, magnetizante, provocante e sensacional Jazz
Fusion com clássicos ecos de Mahavishnu Orchestra, Weather Report, Return
to Forever, Frank Zappa e Soft Machine, a sumptuosa,
enfeitiçante, espalhafatosa e cerimonial sonoridade de Black Pig Meat
embarca ainda num ousado safari pelas labirínticas selvas de um exótico, colorido,
carnavalesco e caleidoscópico Psychedelic Rock de apimentado suor latino e
influência colhida em Carlos Santana. Norteadas por um experimentalismo
sem fronteiras e um magnetismo simbiótico, as intuitivas, esponjosas, aventurosas
e evolutivas jams instrumentais de ‘Symbiotic Dream’ induzem e conduzem o
ouvinte pelos místicos territórios de um afrodisíaco sonho. Ziguezagueando
entre passagens lenitivas, envolventes e reflexivas que nos travam a respiração
e soterram nos abismos da introspecção, e espalhafatosas, ritmadas e buliçosas
cavalgadas de instrumentos em sónica debandada que nos sobreaquecem e embevecem
o espírito, este é um álbum magistral que se agiganta e supera a cada renovada
audição. Edénico, sidérico e divinal, este primeiro passo discográfico da turma
conimbricense mais se assemelha a um histórico salto olímpico. Uma estreia
auspiciosa que em mim causara um verdadeiro sismo emocional de elevada magnitude.
Na composição deste criativo vulcão em diluviana erupção podemos testemunhar as
vistosas danças de uma guitarra devaneante que nos mumifica numa sedosa teia de
embriagantes, fascinantes e empolgantes riffs e descarrila num rodopiante
vendaval de solos derrapantes, estonteantes e angulosos, a dominante reverberação
de um baixo sombreado, obeso e coeso que pulsa e soletra o riff-base numa
repetição absorvente, a quimérica sublimidade suspirada por um adorável teclado
de polposos mugidos e bailados entretidos que nos borrifa com brilhantes e
fantasmagóricas poeiras cósmicas, e as extraordinárias acrobacias jazzísticas
de uma endiabrada bateria vivamente locomovida a ritmos animados, excitantes e desembaraçados.
‘Symbiotic Dream’ é um registo verdadeiramente irresistível, embebido em
chamejante exotismo e desarmante tecnicismo, que toca as longínquas e tão cobiçadas fronteiras
da perfeição. Aos meus ouvidos, o melhor álbum português do ano.
Links:
➥ Instagram
➥ Bandcamp
➥ Raging Planet

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