sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Review: 🐽 Black Pig Meat - 'Symbiotic Dream' (2025, Raging Planet) 🐽

★★★★

É de origem portuguesa uma das maiores surpresas sonoras de 2025. Sendo eu um indefectível entusiasta do Jazz Fusion gerado e electrificado na dourada década de 1970, e que há muito lamentava tratar-se de um subgénero musical sem representação nacional nos tempos que correm, foi boquiaberto, de olhar incendiado e ouvidos salivantes que experienciei o espantoso álbum de estreia de Black Pig Meat – talentoso quarteto domiciliado na cidade de Coimbra – denominado ‘Symbiotic Dream’ e editado pela influente companhia discográfica lusitana Raging Planet através dos formatos CD e digital. Baloiçando entre um atmosférico, estético, cinematográfico e sedutor Contemporary Jazz a fazer recordar as agradáveis paisagens nevadas de John Abercrombie, Bill Frisell, Jakob Bro e Edena Gardens, e um cerebral, magnetizante, provocante e sensacional Jazz Fusion com clássicos ecos de Mahavishnu Orchestra, Weather Report, Return to Forever, Frank Zappa e Soft Machine, a sumptuosa, enfeitiçante, espalhafatosa e cerimonial sonoridade de Black Pig Meat embarca ainda num ousado safari pelas labirínticas selvas de um exótico, colorido, carnavalesco e caleidoscópico Psychedelic Rock de apimentado suor latino e influência colhida em Carlos Santana. Norteadas por um experimentalismo sem fronteiras e um magnetismo simbiótico, as intuitivas, esponjosas, aventurosas e evolutivas jams instrumentais de ‘Symbiotic Dream’ induzem e conduzem o ouvinte pelos místicos territórios de um afrodisíaco sonho. Ziguezagueando entre passagens lenitivas, envolventes e reflexivas que nos travam a respiração e soterram nos abismos da introspecção, e espalhafatosas, ritmadas e buliçosas cavalgadas de instrumentos em sónica debandada que nos sobreaquecem e embevecem o espírito, este é um álbum magistral que se agiganta e supera a cada renovada audição. Edénico, sidérico e divinal, este primeiro passo discográfico da turma conimbricense mais se assemelha a um histórico salto olímpico. Uma estreia auspiciosa que em mim causara um verdadeiro sismo emocional de elevada magnitude. Na composição deste criativo vulcão em diluviana erupção podemos testemunhar as vistosas danças de uma guitarra devaneante que nos mumifica numa sedosa teia de embriagantes, fascinantes e empolgantes riffs e descarrila num rodopiante vendaval de solos derrapantes, estonteantes e angulosos, a dominante reverberação de um baixo sombreado, obeso e coeso que pulsa e soletra o riff-base numa repetição absorvente, a quimérica sublimidade suspirada por um adorável teclado de polposos mugidos e bailados entretidos que nos borrifa com brilhantes e fantasmagóricas poeiras cósmicas, e as extraordinárias acrobacias jazzísticas de uma endiabrada bateria vivamente locomovida a ritmos animados, excitantes e desembaraçados. ‘Symbiotic Dream’ é um registo verdadeiramente irresistível, embebido em chamejante exotismo e desarmante tecnicismo, que toca as longínquas e tão cobiçadas fronteiras da perfeição. Aos meus ouvidos, o melhor álbum português do ano.

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