É ainda assoberbado por sentimentos contrastantes, mas contrabalançados, que redijo estas choradas, sinceras e apaixonadas
palavras sobre o novo, surpreendente e magistral álbum dos noruegueses Ring Van Möbius, intitulado ‘Firebrand’
e editado pela companhia discográfica local Apollon Records nos formatos
LP, CD e digital. Se por um lado sinto o ardente entusiasmo por vivenciar de
ouvidos salivantes, olhos relampejantes e batimentos cardÃacos galopantes toda
a imperial majestosidade daquela que se perfila como a obra suprema de um dos
meus grupos favoritos da modernidade, por outro sinto em igual dose a gélida
tristeza de constatar que se trata mesmo do derradeiro álbum produzido por este talentoso
tridente nórdico (anúncio oficializado pelo próprio) que, lamentavelmente, desta
forma, regressará ao estado de total hibernação em que aparentemente já se encontrava antes desta sua inesperada aparição com um novÃssimo álbum em mãos. Pensado,
esboçado e executado em total segredo, ‘Firebrand’ é um grandioso,
melancólico, erudito, mediévico e glorioso álbum de criação conceptual e
gravação analógica, dominado por um teatral, melódico, dramático e sensacional Prog
Rock de perfumados ares sinfónicos que colhe inspiração em clássicas referências britânicas da dourada década de 1970 como Emerson, Lake & Palmer, Gentle
Giant, Genesis, Van der Graaf Generator, Peter Hammill
e Egg. Harmoniosa, principesca, aventurosa, romanesca e ostentosa, a egrégia sonoridade
desta obra-prima final de Ring Van Möbius
vem pincelada e embelezada por elaboradas, cerebrais, esculturais e condimentadas
composições que nos mantêm de fascinação acordada e a elas firmemente atrelados do
primeiro ao derradeiro minuto. Compartimentado em três expressivas, inventivas,
extensas e expansivas faixas, ‘Firebrand’ é um álbum imensamente
refinado, refrescante, extravagante e rebuscado que não deixará ninguém
recostado à indiferença. Inundado por uma rica profusão de fantásticos teclados
que tanto se passeiam graciosa e envaidecidamente por frondosos e verdejantes jardins
de poéticas, estéticas e sonhadoras melodias quiméricas, como se transcendem em
polposos, monumentais e aparatosos mugidos de arrogante grandiosidade e transbordante
misticidade, e gritam efervescentes, ferventes e ácidas sirenes cósmicas que
nos deslumbram e ofuscam com um intenso brilho estelar, sombreado por um possante,
protuberante e obeso baixo de magnetizantes, sumarentas e bailantes linhas escritas
a negrito, galopado por uma bateria estonteante, estimulante e deliciosamente
jazzÃstica de ritmicidade acrobática, livre, leve e enfática, e trauteado por
uma voz aristocrática, cénica, melodiosa e carismática que lidera com
desarmante sentimento e distinção toda esta impressionante caravana circense, ‘Firebrand’
é um registo monumental, de contornos épicos, que extrapola as costuras fronteiriças da perfeição.
Emblemático, desafiante, triunfante e epopeico, este último álbum da formação
domiciliada na cidade costeira de Kopervik encerra com chave de ouro o
legado imortal deixado por Ring Van Möbius e
projecta esta sua derradeira e irretocável criação para o epicentro da sangrenta
contenda pela conquista dos lugares cimeiros da listagem que medalhará os
melhores álbuns editados em 2025. Este é o capÃtulo final de uma banda prodigiosa e intemporal que
hoje sopra e extingue a chama da sua história futura, estando ela,
presentemente, no pináculo da sua criatividade musical. Até sempre, Ring Van
Möbius. Obrigado pela música.
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