Cinco anos
após o lançamento do seu homónimo álbum de estreia (aqui trazido e examinado),
o trio canadiano Sublunar Express – natural da cidade de Montreal
(no Québec) – apresenta agora o tão aguardado sucessor intitulado ‘Peeling
the Horizon’ e editado através dos formatos LP (disponível em ultra-limitadas
edições matizadas a estonteante combustão de caleidoscópica coloração pela mão
da californiana Wet Records), CD (numa apelativa edição autoral) e
digital. Com a fornalha repleta de carvão incandescente, chaminé fumegada a intensa
pretura e as janelas levemente embaciadas, este comboio locomovido a vapor continua
a sua musicada jornada pelos confins da enigmática noite nevada que nunca se
entrega à luz do dia. Numa admirável viagem explorativa pelos encantados universos
de um fantástico, reflexivo, lenitivo e cinematográfico Post-Rock a
fazer recordar os americanos Giant Squid, um intrigante, esponjoso, umbroso
e arrogante Post-Punk que homenageia os seminais Joy Division, um
musculado, reptiliano, ousado e provocante Proto-Punk na senda dos
incendiários The Stooges, e ainda de um anestésico, melancólico, embrumado
e onírico Shoegaze de húmidos ecos Slowdive’anos, este camaleónico,
misterioso, inusitado e exótico ‘Peeling the Horizon’ desdobra no
imaginário do ouvinte toda uma paisagem apocalíptica oxigenada a insanidade, luto,
descrença e desumanidade. A sua esdrúxula, acinzentada, diferenciada e heterogénea sonoridade
– magicada a experimentalismo, perfumada a misticismo e climatizada a sentimentalismo
– tanto nos anoitece, amolece e adormece nas profundezas da soturnidade, como
nos dilata as pupilas, empalidece o rosto e absorve numa espasmódica dança macabra,
compenetrada e indiferente ao que nos rodeia. Musicada por uma intoxicante guitarra
de imponentes, ardentes, absorventes e vistosos riffs e solos desenvencilhados, giratórios
e embriagados, um baixo viscoso, pulsante, ondulante e polposo, uma expressiva,
diligente e criativa bateria capaz de modelar e compassar todos estes contrastes
climáticos, e uma profusão de vocais lúcidos, vampíricos, etéreos e espectrais (aos
quais se juntam ainda as efémeras, mas enriquecedoras, colaborações de um
saxofone de estética “noir” serpenteado a sopros gritados, um sibilino duduk que
se adensa em mugidos aveludados e uma divina voz feminina de pele cristalina
que sobrevoa a névoa da madrugada), esta memorável viagem neste expresso
nocturno causa no íntimo do ouvinte um eclipse verdadeiramente transformador,
miraculoso e emancipador. Sonhem de olhos bem arregalados à mesmérica influência
de Sublunar Express sem a mais pequena vontade de dele despertar. De
realçar ainda o imersivo artwork de natureza distópica, superiormente
ilustrado pelo artista espanhol Joan Llopis Doménech (com o qual a banda reforça a sua confiança). Este é um álbum
norteado a volatilidade, estranheza e imprevisibilidade que nos fascina e surpreende
em cada esquina. Cabe tudo nos seus dilatantes 38 minutos de duração. Cabem
todos nesta sui generis, bizarra e cabaresca expedição pelos sinuosos carris de ‘Peeling
the Horizon’.
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