domingo, 15 de fevereiro de 2009

Noite na Taberna...

Depois de construído o santuário Rock, protegido por Santo JACK DANIELS, temas musicais como Garden, Black, Jeremy e Oceans (Pearl Jam) dominaram a atmosfera do piso superior. No meio de tal, densa, atmosfera tão familiar, recolhi a garrafa de Jack Daniels do seu cantinho solitário e, convictamente, abri-a. Deixei o seu conteúdo (divinal) libertar-se, e ganhar forma sob dois copos de vidro. Gargantas secas (as nossas) que, sequencialmente, permitiam a passagem do whiskey. “Whiskey for the Holy Ghosts”. Apertamos o fecho dos casacos e saímos. Bairro Alto… Antecipadamente havíamos visitado uma velha taberna de metal, comandada por um velhote (aparentemente fã incondicional de Iron Maiden), e um Dj portador de, colossal, sabedoria dentro de tal atmosfera sonora. Os seus discos estavam, confortavelmente, armazenados em suas devidas caixas, beijadas por uma camada protectora de plástico e ainda um pequeno saco de plástico para cada uma das suas pequenas relíquias. Subimos pela velha e inconstante calçada de granito, ate que a poucos metros da taberna escutamos o, poderoso, baixo que, ganhava enorme protagonismo nessa rua. Entramos. Uma senhora idosa com os seus (precisos) 86 anos protegia a retaguarda do balcão, assim como, a aparelhagem portadora do som ambiente, e o já conhecido Dj encostado ao balcão, de pernas cruzadas a beber uma super bock pelo gargalo da garrafa… “Boa Noite” saudamos nós. Um “Boa Noite” em comum foi-nos dado como resposta. A voz pesada do Dj e a voz suave da idosa fundiram-se num só tom. “duas sagres” pedimos nós, conhecendo desde há muito, que não têm finos (sim “finos”, já me serviram duas vezes café por me mostrar invicto quanto á utilização de valores/costumes nortenhos, e não me prostituir pedindo uma “imperial”). Depois de acatada a ordem dos recém-chegados clientes, a idosa, lentamente, mergulha as suas delicadas mãos na arca frigorífica e retira duas sagres. Sentamo-nos. Enquanto observava-mos as, brancas, paredes camufladas por posters demoníacos, com anjos das trevas, figuras demoníacas, batíamos, ritmicamente, o pé no chão, acompanhando a atmosfera sonora que já há muito reinava aqueles céus. A idosa batia palmas, acompanhando a forte bateria. Olhei o Alexandre e gestualmente alertei-o sobre o que se estava a passar atrás do balcão. Aquela idosa senhora de longos cabelos brancos, óculos de armadura negra e grossa suportando, também, grossas lentes que pesavam e consequentemente se arrastavam ao longo do seu nariz, de cabelos soltos nas costas do seu velho casaco de malha (certamente fragmentos passados de tantas vivencias, tantas memórias já presenciadas) e de olhar vazio, distante… era afinal um dinossauro do Heavy Metal. Aquele som era-lhe, estranhamente, familiar. O Dj desloca-se, em passos longos, até á entrada. Faz uma pausa e, a poucos metros da rua, acende um cigarro, trava o primeiro “beijo” no cigarro, a confirmação da sua luminosa presença, e expira um denso fumo, que se ascendeu como que um fantasma, e se dissolveu no heavy metal que controlava os céus da taberna (como já, anteriormente, disse). “Dona Maria” diz ele, de costas voltadas para o interior, “As ruas estão desertas, caso não esteja ninguém depois da meia-noite, feche a porta e vá embora”. Dona Maria… Mas a Dona Maria permanecia de olhos fechados no seu mundo, onde eu não me atrevo espreitar. O Dj recolhe. A Dona Maria (identidade ocasionalmente conhecida, desvendada), tentava retirar o disco que já se fazia sentir há largos minutos e colocar outro… O Dj auxilia-la e regressa á sua posição, por defeito. De cotovelos apoiados no velho balcão metálico e de pernas cruzadas, descansadas sobre o frio chão de mármore. Na rua, em frente á taberna, um índio brasileiro, mostrava o seu desagrado, vocalmente, com o condutor de um camião que recolhia o lixo das ruas, pois este quase o atropelava, não fosse o alerta oportuno do meu amigo, Alexandre. Enquanto o Dj, testemunha diária, dos vários acontecimentos que têm lugar naquela rua do bairro alto, partilha as suas suspeições acerca dos comércios vizinhos, eu dou o último gole na cerveja e dirijo-me ao balcão para, educadamente, pedir mais um par de cervejas Sagres á Sra Dona Maria.

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