terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Véus Negros


Está apagada…
A chama que, persistentemente, acompanhou e iluminou as escuras e estáticas palavras que compunham o livro, morreu. Quentes lágrimas de cera descem o abismo. Um, caloroso, fumo cinzento, anuncia a morte de sua mentora que tanta utilidade me prestou. As minhas narinas absorvem parte do fumo… fumo esse, que apunhala os meus pulmões. Fecho o livro. É injusto terminar, forçosamente, a leitura a meio de uma explicação conclusiva, que, embora, divague, tudo isso se apresenta como essencial para a constituição de uma ideia clara na sensibilidade. Esqueço a palma da minha mão adormecida sobre o livro, enquanto a escuridão conquista todo o espaço em que me encontro. A luz que o Homem impôs na escura noite visita-me. Fresca e húmida água passa pela seca garganta. O relógio de pulso que jaz em cima da velha mesa-de-cabeceira prossegue a sua, fluida e condicionada, respiração. O som de pesados passos domina a presença sonora que, até aí me contemplava. As órbitas ósseas do punho de um desconhecido batem á porta. A maçaneta grita enquanto é arrastada. Oh, velho corvo que me visitas, temo que te tenhas enganado no teu lar, apesar de tais condições familiares a ambos, não é aqui que as tuas negras pálpebras se têm fechado. Um forte e agressivo vento colide com as persianas entreabertas que escondem discretamente a minha face da luz. De costas voltadas para a porta, solto a cabeça sobre as costas. O corvo já me abandonou, mas deixou a porta aberta…
A luz entrou, e retomei a leitura do livro.

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