sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Solitário
















Bebeu o último copo de whisky e abandonou o bar. Lá fora reinava um nevoeiro cerrado e uma aragem gélida. Era a noite mais fria de Dezembro. Tentou focar o firmamento que o aguardava. A noite sussurrava ao seu ouvido. As luzes dos candeeiros públicos estavam intermitentes e não se via uma única pessoa na rua. Recostou o seu longo casaco negro de cabedal contra o seu corpo e atravessou a rua. Ouviam-se os latidos de cães vadios. Aproximou-se do seu velho Mercedes e entrou apressadamente. Massajou as mãos e aqueceu-as com o seu bafo cálido. Ligou o rádio e aconchegou a cabeça junto ao vidro lateral. Cerrou os olhos e, momentaneamente, adormeceu. A forte bruma envolveu o carro… Foi então que uma mão revestida por uma luva negra rasgou toda a consistência daquela bruma e bateu no vidro do carro. Ele acordou em sobressalto, e apesar de toda aquela indefinição visual, o uniforme do intruso foi fácilmente reconhecido: era um polícia. Perguntou-lhe se estava tudo bem. Ainda apavorado, ele gesticulou e soletrou dizendo que sim. O polícia afastou-se e desintegrou-se por entre a neblina. O rádio perdera o sinal e apenas se ouviam palavras inacabadas submersas num profundo oceano de ruído. Persistentemente rodou a chave, mas o frio anestesiara o motor do Mercedes. Enfurecido, abandonou o carro e dissipou-se no horizonte conturbado.

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