quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Roscoe Street, Chicago

De repente as minhas pálpebras abriram-se. Acordei num universo de escuridão, onde a tua tranquila respiração se fundia com o som da chuva que caía lá fora. Não sei o que suspendeu o meu sono de forma tão gritante... Num esforço calado, arrastei a cabeça pela almofada, de forma a encontrar-me na escuridão daquela noite. 05:10h – anunciava o relógio de dígitos luminosos. Levantei,  suavemente, o  vértice do lençol que cobria os meus ombros e saí da cama. A tua respiração compassada e serena prosseguia noite dentro. Aproximei-me da janela, e pelas frinchas da persiana pude ver a rua desolada que jazia abaixo do meu quarto. Os candeeiros de iluminação pública estavam intermitentes e a chuva acelerava o seu cortejo suicida em direcção ao solo. Ouviam-se desacatos provenientes de um pub situado no fundo da rua. As garrafas partiam-se e catapultavam consequentes palavras de guerra que encorajavam os presentes à disputa. Não fosse a chuva a impedir a propagação sonora do iminente apogeu da violência, e as forças policiais já estariam no local para acalmarem os ânimos e fazerem detenções. Assim sendo, toda a rua dormitava nos seus leitos de inconsciência aprazível. A presença tão audível da tua respiração anestesiou os meus ombros. Ela parece divulgar a perenidade da tua vida. Apenas da tua vida! Pois quanto à nossa união, avizinha-se um longo processo litigioso de separação, que as nossas palavras e posições tão condescendentes não conseguiram impedir. Quando isso acontecer, talvez corra a um bar e me embebede até que as pesadas mãos da ebriedade sufoquem o débil pescoço da lucidez.

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