quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Dolores

Ouvi os seus passos afastarem-se pelo longo corredor em direcção à porta. Sinal de que passaria mais uma noite fora de casa. Estava um final de tarde solarengo, e os últimos raios entravam timidamente pela longa vidraça que a sala dispõe. Suavemente, foram tacteando terreno até subirem pelo meu corpo cansado e recostado no sofá. Foi um toque caloroso que derreteu a gélida suspeição que pautara o relógio da vida, e que reanimou a minha expressão facial (que até então permanecera paralisada). Encontrei-me num mundo de doce Misantropia. Reencarnei a personagem solitária do quadro “Nighthawks” de Edward Hopper, que permanece isolada no balcão do bar... eternamente isolada.

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