domingo, 5 de agosto de 2012

Dial M for Murder (1954) de Alfred Hitchcock

Que Alfred Hitchcock tenta privar as testemunhas dos seus filmes de inalar oxigénio durante o desenrolar dos mesmos, já todos sabemos. Mas impedir que o espectador inspire o fruto da vida durante 105 minutos, chamar-lhe-ia de homicídio. Falo do seu esplendoroso “Dial M for Murder”, um thriller sobrecarregado de suspense que, seguramente, domina todo aquele que lhe dedicar atenção. Este belo exemplar da mais brilhante década que o cinema conheceu, os anos 50, narra o antes, o decorrer e o depois de um crime mal sucedido. Tudo começa com a notável persuasão de Tony Wendice para com o seu colega de faculdade, Charles Swann. Tony, um marido desconfortável pela clara traição da sua esposa Margot Wendice (com um talentoso escritor chamado Mark Halliday), arquitecta uma forma (e que forma!) de assassinar a Margot, recorrendo a Swann como o herói do seu crime - aparentemente – perfeito. Depois de muito bem estudado, o seu plano elevava-o ao apogeu da confiança. Mas nem só de um bom argumento se constrói um bom filme, e a noite do crime espelhou esta mesma teoria de forma perdulária. O assassino não consegue vestir a roupa da sua tarefa, e depressa se converte em assassinado pela esposa de Tony. Desde logo, Tony é forçado a improvisar uma retórica “salva-vidas” que o afaste do dedo indicador da justiça. Quando a azáfama policial parece ter acalmado, e a resolução do crime parece estar a germinar com muita dificuldade, eis que aparece a figura mais temível dos obreiros do crime: o inspector. De figura imponente e com uma interminável sede de descoberta no âmago do crime, o inspector Hubbard bate à porta da família Wendice. Quando a culpa parece calçar melhor em Margot e é consequentemente acusada de assassinato, Tony vê-se importunado pelo amante da sua esposa, que o tenta colocar no banco de réus em troca de Margot (usando exactamente o mesmo plano que Tony edificou). Num jogo onde a verdade se reveste de ficção e, simultaneamente, a ficção se reveste de verdade, é o inspector Hubbard quem decifra a verdadeira história e intenções por detrás daquele crime. Num investigar mais perspicaz, Hubbard dá voz a todos os elementos perversos que Tony julgava mudos.

Uma história estrondosa que envolve apenas cinco personagens com caracterizações soberbas e de estrutura bastante complexa. É o meu filme favorito do Hitchcock (o “Rear Window” que me perdoe), e um dos filmes que mais me cativa.

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