segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Todas as estradas vão dar a Almeria: o Western que há em nós (capítulo III)

Na chegada a Tabernas, recorremos a um posto de turismo com o intuito de nos informarmos melhor acerca da localização e preços dos vários estúdios de cinema western existentes nas redondezas. Saímos de lá atulhados de panfletos informativos, postais e mapas da zona. Depois disso, atracámos os nossos cotovelos num balcão ali perto e discutimos a nossa agenda para os três dias que nos faltavam aproveitar em solo espanhol. Dos três estúdios de cinema western presentes no deserto de Tabernas, Fort Bravo foi aquele que mais interesse nos suscitou. Filmes como “C’era una volta il West”, “Il Buono, il Brutto, il Cattivo”, “Per un pugno de Dollari”, “The Magnificent Seven” e “Lawrence of Arabia” foram rodados em pleno deserto de Tabernas e estávamos ansiosos por poder ver ao vivo todos aqueles cenários tão familiares. Os três dias que se seguiram foram vividos em constante movimento. Atravessámos várias vezes aquele deserto de areias fervilhantes em direcção às paradisíacas praias da costa sulista. Todas essas incursões até San José e Cabo de Gata intervalaram as nossas visitas aos dois estúdios cinematográficos que acabámos por visitar. O primeiro – tanto cronologicamente quanto qualitativamente – a ser visitado foi o sublime Fort Bravo. Uma pequena vila construída com o único propósito de receber as esporas mais brilhantes de Hollywood. E é aqui que todos os adjectivos se confessam tímidos em tentar descrever como verdadeiramente me senti naquele local. Vivi um inenarrável deslumbramento com todo o misticismo que me circundava. De salientar o magnifico saloon (onde assistimos a belas performances teatrais que remeteram todos os presentes para os dias em que a lei e a ordem calçavam texanas, disparavam winchester’s e montavam a cavalo); a fonte e igreja mexicanas que foram referências no western “The Magnificent Seven”; e o reconhecível e imponente arco (que eu julgava esquecido) pertencente ao, muito provavelmente, melhor western da história do cinema: “C’era una volta il West”. Depois de assistida uma nova performance (desta feita, realizada no exterior) onde um roubo, uma perseguição a cavalo e um duelo tiveram lugar, ainda tivemos direito a um passeio de diligência pela vila do oeste. O vento entrelaçava-se com a música de Ennio Morricone enquanto os nossos corações ainda rufavam quando confrontados com todo aquele carisma inerente ao espaço. Acabámos por passar cerca de seis a sete horas por ali. E no final ainda fomos presenteados por uma bela cerveja e uma tequila oferecida por quem governava o saloon, enquanto o sol vermelho já tocava as areias do deserto. Virámos costas ao Fort Bravo ainda arrasados com aquela experiência. O próximo dia foi todo ele passado na localidade costeira de San José, onde copos de cerveja tintilavam, as águas do mar persuadiam e a gastronomia não dava descanso às glândulas salivares. O próximo sol que vimos nascer assinalava a despedida do deserto. Acordámos cedo para fazer nova incursão ao longo das estradas que rompem o deserto em direcção à praia. Já a tarde estava confinada à visita de um novo parque onde subsistiam referências alusivas ao cinema western, mais precisamente de Sergio Leone, chamado Western Leone – Poblado del Oeste. Este segundo parque, bastante mais humilde que o primeiro, tinha a carismática casa (agora transformada num saloon) que assinala o início de “C’era una volta il West” (onde toda uma família é chacinada), e surpreendentemente dois veículos (quase que em segredo) do filme “Mad Max”. A saída deste parque determinou também a saída de Espanha em direcção a Portugal. Regressámos a casa muito mais ricos por tudo o que esta experiência mudou em nós. Deixámos o deserto nostálgico para trás e acelerámos rumo a uma noite tão acordada quanto aquele sonho se adjectivava. 

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