Passei toda a minha
adolescência atracado à sonoridade grisalha que saía das caves da chuvosa
cidade de Seattle, ou seja, da música Grunge,
e – portanto - foi já na viragem para a idade adulta que me convertera num
seguidor a tempo inteiro do então apelidado Stoner Rock (impulsionado por um amigo da época e pelas aparições
de Mark Lanegan nos QotSA) deixando para trás os já cansados acordes das tantas
bandas que até então escoltava religiosamente. RotoR
foi uma das primeiras bandas que ouvi nesse fácil processo de transição para o
ardente flanco da música Rock. Hoje, cinco anos depois de “4” (o seu quarto
álbum de estúdio), é-nos apresentada a sua mais recente criação chamada “Fünf”.
Depois de quinze anos inteiramente dedicados ao Stoner Rock (na verdadeira
acepção do termo), a banda alemã decide enriquecer a sua sonoridade com o
aparecimento do Prog Rock. “Fünf”
representa, então, o feliz equilíbrio entre o Stoner Rock e o Prog Rock
numa parceria que muito enriquece a estrutura musical do mesmo. Representa
também o divórcio da banda com o conceituado selo alemão Elektrohasch depois de dez anos de união, para confiar o seu novo
legado ao (também alemão) selo Nois-O-Lution. Para os mais fiéis
seguidores de RotoR será fácil reconhecer a nomenclatura base de “Fünf” e
dificilmente não aprovarão as novas orientações musicais nas quais o quarteto alemão
decidiu aventurar-se. Antecipando a sua análise mais aprofundada, considero “Fünf”
o melhor trabalho da banda. Depois de experienciado sem distracções, é justo
dizer que se tratou de um jejum bastante produtivo, e – secretamente – desejo
que futuramente mantenham as velas do Prog Rock bem içadas. “Fünf” distende-se
ao longo de 42 minutos, mostrando riffs
pujantes, fibróticos e bastante dinâmicos que desaguam em fascinantes e bem desenvolvidos
solos de inenarrável beleza. As duas guitarras perdem-se e encontram-se nas
suas divagações alucinantes, pendulando entre acordes densos, pesados e corpulentos
e acordes calmos, ligeiros e meditativos. O baixo omnipresente, de respiração carregada,
sombreia e realça todas as inquietudes do riff,
e a bateria fulgurante e resplandecente tiquetaqueia com autoridade e vitalidade
todos os momentos de “Fünf”. A sinergia respirada pelos quatro instrumentos é
de tal forma prazerosa e estimulante para o ouvinte, que o obriga a uma extravagante
resposta. Este é um disco pleno, um disco muito próximo da perfeição que merece
ser ouvido com inteira devoção.
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