É ainda de alma fascinada e temulenta
que escrevo estas elogiosas palavras inteiramente dedicadas ao maravilhoso
terceiro álbum da banda sueca Hills.
Como o nome sugere, ‘Alive At Roadburn’ foi captado ao vivo na passada edição de
2016 do já carismático festival holandês Roadburn
e seguramente encherá de orgulho quem teve a fortuna de vivenciar esta
encantadora cerimónia, bem como castigará de inveja quem – como eu – não estivera
presente na cidade de Tilburg entre os dias 14-17 de Abril. Lançado hoje mesmo
pelo selo inglês Rocket Recordings
nos formatos físicos de CD e vinil (reforçando – assim – a relação de
fidelidade entre a banda e o selo discográfico independente), este ‘Alive At Roadburn’ é uma
edénica, deslumbrante e envolvente passeata pela ainda curta mas deliciosa discografia
da banda escandinava de raízes sepultadas na cidade de Gotemburgo. Depois de no
passado ano de 2015 ter obedecido à resplendorosa e desmedida lubricidade de ‘Frid’
(review aqui) hoje sinto-me compelido a tentar descrever com justiça e fieldade
tudo o que este novo álbum representa e provocara em mim. Baseado num místico,
prazeroso e lenitivo Krautrock que
nos abraça e bronzeia de doce e intensa inércia, e num quente, requintado e delirante
Psych Rock de poderosos e duradouros
efeitos alucinógenos, ‘Alive At Roadburn’ tem o dom de nos
amortalhar e saturar num pleno e paradisíaco estado de êxtase que nos massaja o
cerebelo do primeiro ao último tema. O ouvinte é submetido a uma etérea, profunda
e agradável hipnose promovida por duas sublimes guitarras que se entrelaçam em uivantes,
arrebatadores e serpenteantes solos e se unem na construção e condução de beatíficos,
mântricos e anestésicos riffs que nos
convidam ao sagrado transcendentalismo, um baixo sonolento e contemplativo de
linhas pausadas, robustas e pulsantes, uma bateria tribalista de inventiva e estimulante
ritmicidade, uns vocais xamânicos e divinizados que conduzem a nossa
espiritualidade ao transe, e ainda um perfumado sintetizador que com a sua psicotrópica
exalação canoniza toda a radiosa, mágica e extraordinária atmosfera de ‘Alive At Roadburn’. Mergulhem nesta profunda narcose e vivenciem um dos
álbuns mais esplêndidos de 2017. Não vai ser fácil regressarem desta extensa
peregrinação pelas douradas, tórridas e aveludadas areias de um distensível
deserto que se espreguiça e desagua no mais puro enlevamento.
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