Ontem – sexta-feira – viajei
até à cidade de Amarante para
testemunhar pela 2ª vez o fascinante Desert
Blues dos malianos Tinariwen.
Integrados na presente edição do festival Mimo,
esta formação nativa da região rural de Tessalit
trouxe os seus desertos sonoros a território português pelo segundo ano
consecutivo. A noite de Amarante palpitava vida e emoção. As estreitas ruas que
me afunilavam até ao Parque Ribeirinho
(local dos concertos) estavam entupidas de pessoas, os bares lotados e
barulhentos, e vivia-se uma atmosfera verdadeiramente encantadora nas margens
do rio Tâmega. Já no recinto do festival pude testemunhar a extensão de toda
aquela exuberante e contagiante vitalidade. Os muitos e diversificados restaurantes
enraizados no Parque Ribeirinho estavam entregues a uma intensa azáfama
provocada pela crescente procura e em frente ao palco já muitos peregrinos
musicais (aos quais eu me juntava) aguardavam a subida ao palco de uma das
bandas mais cobiçadas do festival. Poucos instantes depois de irromper e
estabelecer no meio da multidão, os Tinariwen
subiam ao palco para me presentear com um dos concertos mais apaixonantes
testemunhados em toda a minha vida. Com uma actuação a rondar os 60/70 minutos,
a banda nem precisou de amplificar os instrumentos para conquistar toda uma
plateia que lhes arremessava amabilidade na forma de constantes gritos
motivacionais. De seguida viveu-se um perfeito clima de êxtase religioso ao
qual ninguém recusou comungar. O público – de olhar selado, sorriso talhado no
rosto e detidamente entregue a uma luxuriante dança arábica – respondia como
podia às guitarras que se serpentavam e envaideciam em acordes relaxantes,
mélicos e hipnotizantes e se transcendiam em contagiantes, eróticos e
comoventes solos, ao baixo pulsante de linhas robustas, torneadas e bailantes, à redentora
e empolgante percussão tribalista e aos vocais messiânicos que lideravam toda esta envolvente, sagrada e harmoniosa expedição pelos dourados e aveludados desertos de Tinariwen. Respirava-se uma edénica
atmosfera que climatizara a banda e o público do primeiro ao derradeiro tema. Um
verdadeiro e pleno estádio de deslumbramento instaurara-se em todos nós
proveniente da ataráxica sonoridade destes sete músicos de indumentária tuaregue. Quando os instrumentos se
calaram pela última vez, um imponente, ruidoso e generalizado aplauso agigantou-se
e abateu-se sobre a banda que retribuía o agradecimento ao público dedicando-lhe
delongadas vénias. Não foi fácil aceitar que o concerto havia terminado. A
plateia recuperava lentamente o estado de lucidez que havia sido raptado pelos
malianos e – pela primeira vez – virava costas àquele palco que durante uma
hora se transformara num imaculado altar e canonizara todas as almas daqueles
que interiorizaram a consagrada profecia de Tinariwen.
Links:
Tinariwen
Mimo Festival
Sem comentários:
Enviar um comentário