Dead
Meadow é seguramente uma das grandes bandas da minha vida. Álbuns
como ‘Dead
Meadow’ (Tolotta Records, 2000)
e ‘Feathers’
(Matador, 2005) representam
verdadeiras obras-primas de validade intemporal às quais regresso muito frequentemente,
e os concertos vivenciados no Hard Club,
Porto (2011) e no saudoso festival Reverence Valada (2016) ficar-me-ão perpetuamente
cicatrizados na memória. E, portanto, o anúncio de um novo álbum de estúdio –
depois de um longo jejum de cinco anos – provocara em mim toda uma crescente comoção
de expectativa e ansiedade só saciada muito recentemente com a audição do mesmo.
‘The Nothing They Need’
nasce no vigésimo aniversário desta lendária banda sediada em Washington (EUA) através do selo discográfico nova-iorquino Xemu Records nos formatos físicos de CD
e vinil, e devo antecipar sem demoras de que se trata de um dos meus registos favoritos
deste power-trio. Tal como acontece com
os seus antecessores, ‘The Nothing They Need’ reveste-se
de um psicadelismo lamacento, melancólico, morfínico e lenitivo que nos entope
todas as zonas erógenas, sufoca e embacia a lucidez e petrifica a nossa alma num
perfeito e imperturbável estádio de bem-estar. É fundamentalmente baseado num viscoso,
outonal, lisérgico, nebuloso e bucólico Heavy
Psych – aliado a um modorrento, enigmático, obscuro e fumarento Heavy Blues – que este novo álbum nos
amortalha num denso abraço psicotrópico capaz de nos adornar, hipnotizar e
extasiar do primeiro ao derradeiro tema. Sintam-se atravessar pesadamente um resinoso,
sombrio e pastoso pântano fecundado por velhas, esqueléticas e prostradas
árvores cobertas de musgo e onde uma cerrada, fantasmagórica e esverdeada bruma
sobrevoa rasteiramente toda esta pesarosa paisagem à intrigante e relaxante boleia
sonora de uma guitarra uivante que se passeia sublimemente por entre riffs de corpos vigorosos, letárgicos, magnetizantes
e luxuosos, e alucina em solos ácidos, ecoantes, cáusticos e efervescentes, um
baixo pulsante e reverberante de linhas bem delineadas, coesas e dançantes, uma
bateria flamejante de galope fascinante, relaxado e intoxicante, e ainda uma
voz destemperada, gélida e petrificada que nos golpeia e prazenteia neste profundo
sonho acordado. De destacar ainda num segundo plano a momentânea presença de um
serpenteante e envolvente saxofone detidamente entregue a aveludados,
agradáveis e edénicos bailados. Deixem-se cair, desmaiar e diluir num imenso oceano
de inércia que massajará e canalizará a vossa consciência pelas ataráxicas
artérias de ‘The Nothing They Need’. Recostem-se confortavelmente, baixem
as pálpebras, dilatem as narinas, respirem profundamente e inalem toda a
inebriante natureza deste poderoso sedativo via auditivo. Um dos álbuns mais mélicos,
harmoniosos e terapêuticos de 2018 está aqui, na consequência do tão aguardado
regresso a estúdio dos alucinógenos Dead
Meadow. Esbatam-se nele.
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