Depois de lançados e
devidamente elogiados ‘Lemanis’ em 2016 (review aqui) e ‘Time
Travel Dilemma’ em 2017 (review
aqui), o tridente polaco Spaceslug
acaba agora de presentear todos os seus seguidores com o terceiro e novo álbum ‘Eye
the Tide’. Lançado hoje mesmo tanto em formato digital através da sua
página oficial de Bandcamp, como em
formato físico de CD através da parceria discográfica Oak Island Records / BSFD Records
(com as quais a banda reforça o seu vínculo), este ‘Eye the Tide’ representa
o tão aguardado e renovado capítulo desta formação sediada na cidade de Wrocław pelos enigmáticos domínios do denso,
solitário, profundo e psicotrópico negrume cósmico. Fundamentado num pantanoso,
morfínico, nebuloso e melancólico Psych
Doom – aureolado e climatizado por um contemplativo, lenitivo, atmosférico
e narrativo Post-Rock que se fortalece
num galopante, colérico e euforizante Post-Metal
– este novo registo de Spaceslug
desancora-nos da gravidade terrestre, embacia e narcotiza a nossa lucidez, redefine
a nossa orientação consciencial e mergulha-nos nas profundezas da obscuridade
astral. A sua sonoridade alucinógena faz-nos escorregar numa abissal narcose da
qual não será fácil regressar. Uma homérica odisseia pelos tenebrosos,
obscuros, trágicos e revoltosos mares do lado eclipsado da existência humana
que nos banham de uma imensa e intensa misantropia. Embarquem nesta sublime descensão
às entranhas de um Cosmos falecido e soterrado onde só a solitude impera na companhia de
uma guitarra grandiosa que se enegrece, agiganta e envaidece em riffs vultosos, epopeicos e majestosos,
e se transvia e excede na admirável construção e condução de solos desvairados,
prodigiosos, rutilantes e arrebatadores que combatem toda a cerrada neblina que
envolve ‘Eye the Tide’. Balanceiem os vossos corpos absortos à boleia
de um baixo magnetizante de pulsante, musculada, tensa e reverberante ondulação,
pendulem pesadamente a cabeça de ombro a ombro na instintiva resposta a uma
bateria fulgurante movida e nutrida a uma ritmicidade dinâmica e empolgante, e
intriguem-se por entre a alma de uma voz tanto doce, melódica e relaxada quanto
áspera, ardente e irritada. De louvar ainda o expressivo artwork – ilustrado pelo talentoso e inimitável artista polaco Maciej Kamuda (responsável único
pelos trabalhos visuais de toda a discografia da banda) – que tão bem
transporta para o campo visual tudo o que a musicalidade de ‘Eye
the Tide’ pincela no imaginário do ouvinte. Este é um álbum que nos
arrasta consigo numa fascinante viagem evolutiva pela beleza da tristeza que em
nós provoca toda uma experiência imersiva. Deixem-se levar e encantar pela torrente
de Spaceslug e testemunhem todo o desarmante
misticismo emanado por um dos mais hipnóticos e apaixonantes álbuns lançados em
2018.
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