O power-trio texano Amplified
Heat acaba de surpreender todos os seus apóstolos com o lançamento-relâmpago
de ‘Madera’,
o seu terceiro e novo álbum de estúdio. Disponibilizado hoje mesmo através da sua
página oficial de Bandcamp e
unicamente em formato digital, este registo vem condimentado por um elegante,
carismático e electrizante Heavy Blues
de essência vintage, transversal a toda
a linha discográfica da banda desde o momento da sua formação. Naturais da
cidade de Austin (Texas, EUA) estes três irmãos de sangue contam já com cerca de 15 anos de
carreira inteiramente dedicados ao revivalismo sonoro resgatado das décadas de
60 e 70. Referências clássicas como Jimi
Hendrix, Black Sabbath, Cream, ZZ Top, Ten Years After
e Blue Cheer são influências
descaradas na criação musical de Amplified
Heat e ‘Madera’ vem confirmar e reforçar essa tendência (que muito me
agrada, devo dizer). Fundamentado numa ardência erótica – característica tão comum
no velho Heavy Blues – que nos
envolve e revolve ao longo de todo o seu corpo temporal, ‘Madera’ é um álbum
movido a destreza, lubricidade, fineza e majestosidade. Um registo recém-nascido
mas de alma idosa (a sua crua produção à boa moda do Lo-Fi assenta-lhe mesmo
bem) que nos empoeira e afogueia de um sentimento nostálgico. Toda uma deslumbrante
e apaixonante ostentação sonora concebida e conduzida por uma pomposa guitarra –
inspirada nas consagradas raízes do Delta-Blues
– que se envaidece e notabiliza com os seus primorosos, trabalhados, opulentos
e charmosos riffs, e se transcende na
libertação de lustrosos, extravagantes, desconcertantes e aparatosos solos, um
baixo tenso, reverberante – de presença bem marcada e ritmicidade ofegante –
que se serpenteia em linhas pulsantes, volumosas, virtuosas e dançantes, uma excêntrica
bateria de orientação John Bonham’eana detidamente entregue a talentosas, inventivas, ágeis e
fabulosas acrobacias, e ainda uma voz ecoante, tórrida e cortante (a fazer
lembrar os vocais de Mark Arm,
guitarrista e vocalista de Mudhoney)
que cavalga com determinação toda esta provocante exalação bafejada pelo lado
mais Raw
do lendário Heavy Blues. O artwork de feições antiquadas – como que
representando um totem em madeira com os semblantes do trio esculpidos - é da
autoria da já célebre artista texana MishkaWestell. Este é um álbum incensurável – detentor de uma saudosa beleza e
pureza – que nos arrasta consigo tanto para as lamacentas margens do rio
Mississippi como para uma encantadora ambiência de fragância Woodstock’eana de onde não queremos
regressar. Estamos mesmo na honrosa presença de mais um sério candidato à intensa batalha que
se adivinha e avizinha pelos lugares mais cimeiros da listagem onde perfilarão os
melhores álbuns nascidos em 2018.
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