sábado, 27 de outubro de 2018

Review: ⚡ Mohama Saz - ‘Viva el Rey’ (2018) ⚡

A mística formação madrilena Mohama Saz está de regresso com o lançamento do seu terceiro álbum apelidado de ‘Viva el Rey’ pela mão do selo discográfico independente Humo nos formatos físicos de CD e vinil. Um ano depois de promovido (e por mim devidamente difundido e elogiado aqui) o seu segundo registo de longa duração ‘Negro es el Poder’, sinto-me agora novamente impelido a reforçar toda a minha crescente veneração apontada a esta recém-transmutada banda espanhola (que se desenvolvera de quarteto para quinteto). Profundamente sustentados num singular psicadelismo de raízes arábicas que os norteia desde a sua criação, estes madrilenos trabalham também um hipnótico, espiritual e messiânico Krautrock de inspiração religiosa em perfeita e admirável simbiose com uma ostensiva, envolvente e criativa veia jazzística, e ainda com indiscretas influências da música Flamenco e da música erudita de proveniência turca. Todo este exótico sortido sonoro resulta numa sagrada e deslumbrada peregrinação pelas onduladas, quentes, sedosas e bronzeadas areias de um deserto vigiado e bafejado pelo intenso Sol. Toda uma epifania desértica que nos é ministrada pela esplendorosa e inspirada música de Mohama Saz, e que nos mantém num firme e imutável estádio de perfeito bem-estar. De olhar semi-cerrado, sorriso esboçado e detidamente entregues a uma dança serpenteante – como que uma serpente Naja enfeitiçada pela flauta indiana – somos inundados por um contagiante misticismo que nos irradia e fervilha de resplandecência e prazer. Banhem a vossa alma neste edénico oásis adornado por uma guitarra endeusada que se envaidece em exuberantes, sumptuosos, opulentos e magnetizantes acordes, uma voz dominante, ritualística e liderante, um baixo ondulante, fluído, ritmado e tonificante devota e fixamente dado a uma redentora exalação reverberante, um luxuriante saxofone que se manifesta em excêntricos, aveludados, caóticos e delirantes bailados, e ainda uma primorosa bateria aliada a uma percussão soberbamente tribalista que – com um toque polido, subtil, imaginativo e apurado – tiquetaqueiam e incendeiam toda esta santificada e reverenciada peregrinação de tendência oriental. ‘Viva el Rey’ é um álbum tremendamente magnífico, convidativo a uma encantadora e meditativa caravana que se passeia pelos longos desfiladeiros que canalizam a alma. Uma verdadeira ode ao tão almejado transe espiritual que nos atesta e canoniza de uma radiância devocional. Não há como contornar mais esta inspirada obra-prima concebida por Mohama Saz. Seguramente um dos mais grandiosos e copiosos álbuns lançados este ano que promete guerrear de forma afincada pelos mais altos lugares do pódio. Convertam-se em seus crentes seguidores, comunguem todo o seu esplendor e sintam-se ascender aos imaculados domínios de Mohama Saz. Que disco!

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