A mística formação madrilena
Mohama Saz está de regresso com o
lançamento do seu terceiro álbum apelidado de ‘Viva el Rey’ pela mão do
selo discográfico independente Humo
nos formatos físicos de CD e vinil. Um ano depois de promovido (e por mim devidamente
difundido e elogiado aqui) o seu segundo registo de longa duração ‘Negro
es el Poder’, sinto-me agora novamente impelido a reforçar toda a minha
crescente veneração apontada a esta recém-transmutada banda espanhola (que se
desenvolvera de quarteto para quinteto). Profundamente sustentados num singular psicadelismo de raízes arábicas que os norteia desde a sua criação, estes madrilenos
trabalham também um hipnótico, espiritual e messiânico Krautrock de inspiração religiosa em perfeita e admirável simbiose com uma ostensiva,
envolvente e criativa veia jazzística,
e ainda com indiscretas influências da música Flamenco
e da música erudita de proveniência turca. Todo este exótico sortido sonoro resulta numa sagrada
e deslumbrada peregrinação pelas onduladas, quentes, sedosas e bronzeadas
areias de um deserto vigiado e bafejado pelo intenso Sol. Toda uma epifania
desértica que nos é ministrada pela esplendorosa e inspirada música de Mohama Saz, e que nos mantém num firme
e imutável estádio de perfeito bem-estar. De olhar semi-cerrado, sorriso
esboçado e detidamente entregues a uma dança serpenteante – como que uma
serpente Naja enfeitiçada pela flauta
indiana – somos inundados por um contagiante misticismo que nos irradia e
fervilha de resplandecência e prazer. Banhem a vossa alma neste edénico oásis
adornado por uma guitarra endeusada que se envaidece em exuberantes,
sumptuosos, opulentos e magnetizantes acordes, uma voz dominante, ritualística
e liderante, um baixo ondulante, fluído, ritmado e tonificante devota e
fixamente dado a uma redentora exalação reverberante, um luxuriante saxofone que
se manifesta em excêntricos, aveludados, caóticos e delirantes bailados, e ainda
uma primorosa bateria aliada a uma percussão soberbamente tribalista que – com
um toque polido, subtil, imaginativo e apurado – tiquetaqueiam e incendeiam toda
esta santificada e reverenciada peregrinação de tendência oriental. ‘Viva
el Rey’ é um álbum tremendamente magnífico, convidativo a uma encantadora
e meditativa caravana que se passeia pelos longos desfiladeiros que canalizam a
alma. Uma verdadeira ode ao tão almejado transe
espiritual que nos atesta e canoniza de uma radiância devocional. Não há como
contornar mais esta inspirada obra-prima concebida por Mohama Saz. Seguramente um dos mais grandiosos e copiosos álbuns
lançados este ano que promete guerrear de forma afincada pelos mais altos
lugares do pódio. Convertam-se em seus crentes seguidores, comunguem todo o
seu esplendor e sintam-se ascender aos imaculados domínios de Mohama Saz. Que disco!
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