É com incurável e inenarrável satisfação que vejo bandas contemporâneas dar seguimento ao invejável
legado semeado pelo lendário guitarrista argentino Pappo, e a cidade-capital de Buenos
Aires tem sido um dos mais carismáticos nichos de Heavy Blues à boa moda do “El Carpo”. Depois de referenciar e elogiar
bandas locais como Ambassador (Review aqui), Denso Crisol (Review aqui) e Montenegro
(Review aqui), sinto-me agora
obrigado a repetir a vénia lírica ao jovem, mas muito prometedor, power-trio Almanegra, que acaba de lançar o seu magnífico EP de estreia sob a
forma exclusivamente digital (e com a possibilidade de download gratuito). Fundamentado num vigoroso, dinâmico, diabólico e
ostentoso Heavy Blues de galope setentista, maquilhagem Black
Sabbath’ica e vestimenta à Pappo’s Blues e Jimi Hendrix, este enigmático registo de
designação homónima é executado a uma destreza, requinte, expressividade e firmeza que me
atordoaram e conquistaram com tremenda espontaneidade. ‘Almanegra’ foi um perfeito
caso de amor à primeira audição que – do primeiro ao derradeiro tema – me mantivera
aprisionado a um intenso estádio de puro deslumbramento e insensato regozijo.
São cerca de 21 minutos completamente sorvidos por uma luxúria musical capaz de
fazer salivar o mais exigente dos ouvintes. Numa erótica conjugação entre a robustez,
a leveza e a tecnicidade, somos hipnotizados e arrastados à alucinante boleia
de uma guitarra endiabrada que se enegrece e fortalece em riffs lutuosos, massivos, soberanos e pastosos, e se desvaira e dispersa
em impulsivos, ziguezagueantes, estonteantes e altivos solos de grande alcance,
um baixo monolítico de linhas bafejantes, onduladas, torneadas e reverberantes,
uma bateria criativa de galopantes, despachadas e entusiasmantes ofensivas, e
ainda uma voz liderante e ecoante que capitaneia toda esta incrível
exteriorização de euforia tocada. ‘Almanegra’ é uma obra
verdadeiramente sublime que apenas peca pela sua curta duração. Este é um EP de
incontornável absorção a todos os leais e potenciais amantes do Heavy Blues de evocação setentista. Deixem-se electrificar e
exorcizar pela alta voltagem de Almanegra,
e testemunhem com total entrega e veneração aquele que aos meus ouvidos se
trata mesmo do melhor EP lançado até ao momento em 2019. Um disco magistral – absolutamente
produzido à minha imagem e a resvalar nas fronteiras da perfeição - que me
deixara atestado e incendiado de desejo pelo seu futuro sucessor.
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