Estes dois amigos inseparáveis
– artisticamente apelidados de The
Picturebooks – estão de regresso com o tão aguardado lançamento do seu quinto
álbum intitulado ‘The Hands of Time’ e promovido pela mão da gravadora
independente e multinacional Century Media
Records sob a forma física de CD e vinil. Munidos de uma bateria
minimalista, uma guitarra canonizada pelo poeirento espírito do velho e saudoso
Blues e uma voz galã, este apaixonante
power-duo natural da cidade alemã de Gütersloh mas de alma atracada nos
carismáticos desertos norte-americanos presenteia todos os seus ouvintes com
uma embriagante e dançante dosagem de Garage-Blues
e de Rhythm & Blues. A sua
sonoridade árida, sépia e ensolarada – bronzeada e melificada por um fascinante
Blues de inspiração tanto rudimentar
como contemporânea que conjuga na perfeição a essência pantanosa e ferrugenta
de um mítico Muddy Waters com a agradável
e eloquente atmosfera Western’eana de
uns Calexico e ainda com a sedutora e
instigadora extravagância de uns Black
Keys – remete-nos para as empoeiradas artérias do deserto de Mojave a trote
de uma clássica motorizada, de cabelos despregados ao sabor da brisa desértica
e olhar esbatido no temulento firmamento afogueado por um intenso Sol de
bafagem ardente e perfumada. É de olhar selado, sorriso perpetuado no rosto e
corpo detidamente entregue a movimentos serpenteantes que nos deixamos envolver
na batida pesada e insistente de uma bateria tribalista que dispensa a
rutilante ardência dos pratos e galopa por entre os seus rumorosos timbalões de
grandes dimensões, uma guitarra afrodisíaca de tonalidade tórrida que se
envaidece na orientação de radiosos, deliciosos e elegantes acordes de
ritmicidade contagiante, e uma uivante e voluptuosa voz oleada e temperada pela
música Soul que nos provoca toda uma
saturada combustão de prazer. ‘The Hands of Time’ é um álbum de simetria
e cadência irresistíveis que nos faz experienciá-lo de cabeça rodopiante, dedos
a estalar e pés a martelar o solo. Este trata-se indubitavelmente do meu álbum
favorito produzido por este dueto de motards
que desde há 10 anos satisfaz todos aqueles que – tal como eu – há muito
venderam a alma ao Blues. Verdadeira pornografia via auditiva. Deixem-se
embevecer e enlouquecer pelo tremendo poder de sedução que este novo álbum de The Picturebooks irradia, e sintam o
forte e fecundante odor a gasolina bafejado pelos canos de escape destes cowboys germânicos à conquista em duas
rodas do inspirador deserto norte-americano. Estamos seguramente na presença de um dos mais aclamados
registos lançados até ao momento neste já abastado ano musical de 2019. Empoeirem-se nele.
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