Da vizinha Espanha chega-nos o espantoso novo álbum
de uma das bandas mais aclamadas do flanco underground
da música Rock espanhola: Pyramidal. Esta talentosa formação, recém
transfigurada de quarteto para quinteto, e localizada na cidade sulista de Alicante lançara em meados do passado
mês de Abril o homónimo ‘Pyramidal’ através da parceria
discográfica promovida pela espanhola Surnia Records (em
formato de CD) e a holandesa Lay Bare Recordings
(em formato de vinil), e o mesmo provocara em mim um intenso estádio de encantamento
logo na primeira audição que lhe dedicara. Fundamentado num magistral, opulento
e orquestral Prog Rock de inspiração
revivalista, um envolvente, meditativo e eloquente Space Rock de alcance extraplanetário e ainda um poderoso,
ostentoso e empolgante Heavy Psych
de elevada toxicidade, este deslumbrante e exuberante álbum traz o intrigante
peso e denso negrume de uns Black
Sabbath, a sagrada, sublimada e sedutora fragância de uns Pink Floyd e os copiosos, extravagantes
e inebriantes bailados de uns Hawkwind.
A sua sonoridade soberbamente complexa de ‘Pyramidal’ – tecida e nutrida a uma
desarmante tecnicidade, primorosa subtileza e magnetizante vistosidade – vem
confirmar um elevado grau de maturação e cumplicidade instrumental nunca antes alcançado
pelos espanhóis. Uma gloriosa, carnavalesca e caprichosa odisseia sensorial que
nos atesta de um crescente fascínio e projecta pelos infindáveis firmamentos da
vacuidade sideral. De visão vendada, cabeça rodopiante e alma atordoada, somos enfeitiçados
e estimulados pela maestria de duas guitarras principescas e enigmáticas que se unificam na
elevação e orientação de épicos, formosos e quiméricos riffs e se serpenteiam e galanteiam na exteriorização de solos rendilhados,
hipnóticos e alucinados, um baixo dançante de linhas bafejantes, fluídas e pulsantes,
uma bateria diligente que se conduz a uma ritmicidade altiva, dinâmica e criativa,
e um mágico sintetizador que borrifa toda a atmosfera de ‘Pyramidal’ com uma aura
celestial de idioma alienígena. É-me ainda importante destacar e elogiar as
colaborações adicionais de um exótico saxofone que se perde e encontra por entre
os seus ziguezagueantes, esquizofrénicos e delirantes bailados, e um violino que
com os seus sedosos, apaziguantes e pomposos movimentos sobrevoa a atmosfera
desta epopeica narrativa superiormente pensada e executada por Pyramidal. Chego ao final destes 47
minutos que balizam esta obra-prima hispânica de expectativa não só saciada
como superada, e alma profundamente assombrada, absorta e conquistada por todo o requintado
talento que ‘Pyramidal’ encerra. Estamos seguramente na honrosa presença de
um dos álbuns portadores da beleza e destreza mais consumadas de 2019. Irretocável.
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