Na Primavera de 2017
escrevia sinceras e elogiosas palavras ao surpreendente trabalho de estreia dos
argentinos Runa Gaman designado de ‘Cepa’
(review aqui), e hoje –
sensivelmente dois anos depois – este agradável quarteto justifica da minha
parte uma renovada e apaixonada dissertação. ‘Runa Gaman’ é o segundo
registo desta formação sediada na capital de Buenos Aires e vem reforçar a
posição da mesma no actual panorama underground
da música Rock argentina (de onde
sobressaem grandes referências como Ambassador, Almanegra, Denso Crisol, Montenegro,
Ayermaniana, Montaña Electrica, Los
Espiritos, Padres Del Yermo e Los Asteroide. Lançado no final do
passado mês de Abril, unicamente em formato digital e com a possibilidade de o descarregar
integralmente de forma gratuita através da sua página de Bandcamp oficial, este novo álbum de denominação homónima traz-nos
muito da adorável envolvência perfumada e propagada pelo seu antecessor.
Baseado num ambiental, meditativo e devocional Krautrock que se banha num ensolarado, deslumbrante e relaxante Psych Rock e se deixa narrar por um hipnotizante,
enternecido, delicado e suavizante Post-Rock
de estética cinematográfica, este ‘Runa Gaman’ provoca no ouvinte uma
intensa sedação que o prende a um paradisíaco estádio de pura fascinação. De olhar
semi-cerrado e embriagado, cabeça detidamente entregue a um repetido movimento
orbital, e alma massajada e ancorada num verdadeiro oásis espiritual, somos tocados e
namorados pela mística sonoridade destes jovens argentinos. Embalados e
narcotizados numa progressiva e introspectiva hipnose que se desenvolve com admirável
fluidez, somos arremessados para a imensa vastidão do nosso Cosmos interior.
Uma fabulosa e transcendental odisseia – de gravidade desamarrada e consciência
entornada – que nos magnetiza e eteriza ao longo de 49 minutos de duração.
Deixem-se embevecer e ofuscar pela intensa e sublimada beleza de ‘Runa
Gaman’ ao combinado e harmonizado som entre uma comovente guitarra de maravilhosos,
deliciosos e extasiantes acordes, um intrigante, mágico e delirante teclado de
idioma alienígena, um pulsante e murmurante baixo de linhas vincadas, robustas
e onduladas, e uma cativante bateria tiquetaqueada por uma compenetrada orientação
de ambiência quase jazzística que
tempera e aprimora toda esta prazerosa indução de mística contemplação. Este é
um álbum de natureza apaixonante – emoldurado a uma desarmante beatitude e elevação
– que me prendera e arrebatara com enorme distinção. Percam-se no erótico requinte
transpirado pelos eloquentes diálogos instrumentais de ‘Runa Gaman’, e vivenciem
de forma totalmente enfeitiçada e submissa todo o terapêutico esplendor de um dos álbuns
mais agradáveis e admiráveis de 2019.
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