Da grande e populosa
cidade-capital de Santiago (no Chile) chega-nos o novo e terceiro álbum
do tridente Vago Sagrado. Oficialmente
lançado no início de Março pela mão do selo discográfico peruano Necio Records sob a forma física de
vinil (numa prensagem ultra-limitada a apenas 250 cópias existentes, produzidas
em solo europeu e distribuídas a partir da Alemanha), este ‘Vol. III’ passeia o
ouvinte pelas suas místicas, plácidas e idílicas paisagens sonoras tecidas,
coloridas e desdobradas por um inebriante, sublime e delirante Shoegaze em harmoniosa consonância com
um envolvente, hipnótico e viajante Krautrock,
um carismático, empolgante e dançante Post-Punk
à boa moda de uns Bauhaus, Killing Joke e Joy Division, e ainda um vibrante, alucinógeno e deslumbrante Neo-Psych de padrões revivalistas. A mágica
e temulenta musicalidade deste terceiro capítulo – pertencente à fascinante
odisseia principiada em 2015 por estes talentosos músicos chilenos – tem a
capacidade de exorcizar a nossa consciência do solo terrestre e catapulta-la para
as mais distantes costuras do Cosmos. Uma alternância mental que tanto nos
eclipsa a alma e a unge de uma doce melancolia, como em nós faz florescer todo
um adorável manto primaveril de cores berrantes, aromas quentes e luminosidade
ofuscante. E é esta bipolaridade de ‘Vol. III’ que faz dele um álbum de
natureza verdadeiramente intrigante, misteriosa e tocante. Uma evolutiva viagem
de cariz introspectivo que nos conduz dos mais obscurecidos e soterrados
abismos da existência humana aos mais elevados e ensolarados píncaros da alma.
Deixem-se absorver e embriagar nas profundezas deste distorcido universo
onírico ao volante de uma guitarra nutrida a lisergia que se manifesta em fascinantes,
anestésicos e magnetizantes acordes de essência morfínica, e se transcende em
borbulhantes, venenosos e atordoantes solos de lamacento psicadelismo, um baixo
modorrento e sonolento de linhas desenhadas e bafejadas a uma reverberação ondulante,
fluída e pulsante, uma emocionante bateria esporeada e locomovida a duas
velocidades, e uma voz afagante, ecoante, profética e liderante (que oscila
entre um Ian Curtis dos históricos Joy Division e um Brian McMahan dos míticos Slint).
São estes os ingredientes elementares que em aliciante e erótica conjugação fazem
deste novo trabalho de longa duração de Vago
Sagrado, um registo verdadeiramente irresistível e impactante. Uma gloriosa
ascensão que nos transporta do infortúnio ao triunfo em apenas 47 minutos de
duração. Um disco impossível de passar despercebido aos ouvidos que nele ancorarem a sua atenção.
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