No já muito remoto ano de
1782, a helvética Anna Göldi – considerada a última bruxa da Europa a
ser executada – era acusada de infanticídio, condenada e punida através de decapitação.
Em sua homenagem – assim como também em honra a todas as restantes bruxas perseguidas,
julgadas e executadas pela severa tirania da Santa Inquisição – o recém-formado duo
italiano 1782 lança agora o seu homónimo álbum de estreia através dos
selos discográficos seus conterrâneos Heavy Psych Sounds Records (em CD
e vinil) e Electric Valley Records (em cassete). Enegrecido, distorcido
e demonizado por um intrigante, lodacento, bafiento e atemorizante Psych
Doom de veneração pagã, este ‘1782’ causara em mim toda uma imersiva
sensação de ininterrupta fascinação que enlutara e profanara a minha alma do
primeiro ao derradeiro tema. A sua sonoridade maléfica, tenebrosa, densa e ritualística
– descendente natural da magia negra doutrinada por uns Black Sabbath e Electric
Wizard – convida o ouvinte a ingressar e participar numa luciférica
liturgia climatizada a ocultismo. Assim que os sinos ressoam por entre o relaxante
som da chuva e dos longínquos rugidos baforados pelos trovões – numa clara
menção ao histórico tema “Black Sabbath” de 1970 (tema homónimo e
pertencente ao álbum homónimo da lendária banda inglesa) – somos hipnotizados, assombrados e arrastados pela titânica, influente e demoníaca ressonância exalada e propagada ao longo
de todo o álbum, desaguando e despertando num crescente sentimento de Déjà
vu assim que o tema conclusivo de ‘1782’ nos surpreende com
uma inspirada reinterpretação do mítico tema “A Saucerful Of Secrets”
(1968) de créditos apontados aos inigualáveis Pink Floyd. De olhar eclipsado, cabeça
pesada e lentamente baloiçada junto ao peito, e alma amortalhada e embaciada
nas profundezas de um oceano morfínico, somos banhados e enlameados pela negra
reverberação de uma guitarra profana que se agiganta em poderosos, vigorosos e
monolíticos riffs tonificados, vibrados e calcinados a efeito Fuzz,
um baixo modorrento de linhas possantes, carregadas e magnetizantes, uma bateria
trovejante de ritmicidade lenta, pesada e retumbante, um cerimonioso órgão Hammond
de intrigantes, trágicos, melancólicos e arrepiantes bailados, e ainda uma voz avinagrada,
ecoante, inebriante e desconsagrada que nos mancha e rasga as vestes da
religiosidade. ‘1782’ é um álbum governado a uma pervertida
sobranceria que nos converte em seus devotos peregrinos. Um impactante registo
de audição incontornável a todos os apaixonados pelo lado mais herético e psicotrópico
do Doom Metal. Deixem-se sombrear e conspurcar nos viscosos pântanos de 1782
irrigados pelo próprio Diabo, e comungar com intensa sedução toda a sua gloriosa
dominância.
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