Do alto do seu iminente 10º
aniversário, os três astronautas germânicos Electric Moon acabam de
lançar um novo álbum gravado ao vivo – engordando assim toda uma discografia
que se dissemina a uma quantidade e velocidade estonteantes – para gáudio
daqueles que – tal como eu – há muito escoltam e veneram as suas envolventes e
fascinantes jam’s de propensão extraplanetária. Depois de os ter
vivenciado ao vivo em 2015 no já extinto festival ribatejano Reverence
Valada (review aqui) o deslumbramento que até aí nutria pelos
Electric Moon sofrera um empolamento de tal ordem, que ainda hoje –
passados quatro anos – tenho bem presente a ressaca que essa mágica experiência
deixara em mim. E se é inegável que me confesso pouco apreciador de registos gravados
ao vivo, Electric Moon consegue verter com imaculada fidelidade para cada uma das nossas casas toda a mágica essência que climatiza e condimenta as suas performances em
palco. E este ‘Hugodelia’ não escapa à regra. Gravado ao vivo em
2018 no velho e carismático edifício austríaco Graf Hugo – que logo após
essa actuação seria permanentemente encerrado ao público – este álbum adjectiva-se
como que uma sentida e inspirada homenagem à vida desse histórico espaço enraizado
na cidade austríaca de Feldkirch. Lançado no passado mês de Maio pela
mão da insuspeita editora alemã Sulatron Records (numa edição em CD limitada
a apenas 1000 cópias disponíveis) e da Pancromatic Records (em formato de vinil),
este ‘Hugodelia’ vem atestado de uma inebriante poeira estelar
que nos desenraíza da gravidade terrestre e magnetiza de encontro aos mais profundos
e negros solos do imenso oceano cósmico. Destilada de um admirável equilíbrio
entre a doce lisergia e a ardente euforia, a mística sonoridade que Electric
Moon tricota e pulveriza ao vivo causa no ouvinte toda uma crescente
hipnose que o canaliza pelas longas e evolutivas jam’s que se desdobram
pelos domínios alienígenas da infinidade e majestosidade sideral. Uma
enigmática essência que gradualmente nos suga de encontro à sua medula, numa anestésica
levitação que desagua numa perfeita erupção de intenso prazer e revoltosa comoção.
Icém as velas da consciência e desbravem os mares cósmicos bem para lá do lado
eclipsado da Lua à boleia de uma endeusada guitarra de orientação Space & Psych, embrulhada e embriagada num experimentalismo
sónico de onde florescem extravagantes, alucinógenos e delirantes solos de elevada
toxicidade e durabilidade a perder de vista, um delicioso baixo Krauty
que com as suas linhas pulsantes, robustas, onduladas e hipnotizantes nos murmura
repetidamente as feições do riff-base, e uma agradável bateria detidamente
entregue a uma constante cadência rítmica que tiquetaqueia e capitaneia esta
fabulosa e aventurosa digressão por entre os mais secretos e solitários astros
suspensos na mais longínqua verticalidade. ‘Hugodelia’ é uma
experiência imersiva que nos faz sentir presentes na gloriosa despedida do Graf
Hugo. Recostem-se confortavelmente, respirem pausada e profundamente, desmaiem as pálpebras sobre o olhar
envidraçado e tombem o semblante eterizado de encontro ao peito. Electric
Moon encarregar-se-á de tudo o resto.
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