Da cidade costeira de Ventura
(Califórnia, EUA) chega-nos ‘High Fantasy’, o (por
mim) tão aguardado terceiro álbum do quarteto Gygax. Lançado muito
recentemente pela mão do selo discográfico californiano Creator-Destructor
Records (especializado no género) sob a forma física de CD e vinil, este novo trabalho de longa
duração da jovem banda norte-americana escuda-se num melódico, entusiástico e dinâmico
Heavy Metal de indiscreta inspiração tradicional que causara em mim um enérgico
abalo emocional. A sua sonoridade fogosa, ritmada, esmerada e ostentosa – marcadamente
norteada e influenciada por uns clássicos Thin Lizzy – conjuga na
perfeição a primorosa elegância com a voraz e vibrante destreza técnica manifestada
pelos instrumentos em incessantes e cativantes diálogos entre si. Uma furiosa
locomotiva sem travões à vista, carburada por duas guitarras gémeas que se agigantam
e galanteiam na ascensão e condução de majestosos, oleados, condimentados e
vigorosos riffs, e se perseguem e entrelaçam em ziguezagueantes,
frondosos, apetitosos e delirantes solos de uma desarmante perícia e atordoante
extravagância, um baixo magnetizante de linhas reverberantes, fluídas, fibrosas
e ondulantes, uma empolgante, desembaraçada e desconcertante bateria esporeada
a uma ritmicidade apressada e arrebatadora tecnicidade, um tímido teclado de
magnânimos bailados, e uma agradável voz que combina a cuidada e lubrificada melodia
com a tórrida e felina rudeza. De estender ainda o elogio ao fabuloso e
caprichoso artwork de contornos mitológicos e créditos apontados ao talentoso
ilustrador mexicano Fares Maese, que confere a este fantástico registo
toda uma fabular ambiência visual de videojogo. ‘High Fantasy’ é
um álbum verdadeiramente portentoso – de consumada sublimidade, inquietante lubricidade
e irrepreensível sagacidade – que provocara e sustentara em mim todo um perfeito
estádio de intensa fascinação e desmoderada exaltação logo à primeira audição
que lhe dedicara. Um dos álbuns por mim mais ansiados do presente ano e que
acabara mesmo por rebentar e transbordar as costuras que balizavam a minha
expectativa a ele previamente prognosticada. São 28 minutos atestados de uma
crescente, erótica e ofuscante excitação que facilmente nos climatiza, prende e
euforiza do primeiro ao derradeiro tema. Toda uma melodiosa e efervescente fogosidade
– superiormente nutrida e conduzida pelos Gygax – que nos inflama e incendeia
de um êxtase impossível de não exteriorizar. Pecando apenas pela sua curta
duração, ‘High Fantasy’ perfila-se como um dos meus discos de
eleição deste já farto ano musical de 2019 que persiste em presentear-nos com o
que de melhor advém da relação entre a qualidade e a quantidade. Uma ininterrupta
vénia a estes californianos de instrumentos bafejados pelo lado mais virtuoso,
glorioso e carismático do Heavy Metal hasteado no final dos 70’s e desdobrado pelos 80's.
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