sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Review: ⚡ Dead Feathers - 'All is Lost' (2019) ⚡

A espera terminou e a ânsia esvaziou. Depois de algures no já distante ano de 2015 ter conhecido, experienciado e consequentemente salivado o fabuloso EP de estreia do quinteto norte-americano Dead Feathers (fixado em Chicago, Illinois), hoje foi finalmente lançado o seu primeiro trabalho de longa duração e eu não poderia ter avançado para a sua escuta integral com maior dose de entusiasmo e motivação. Promovido pelo imparável selo discográfico californiano Ripple Music sob a forma física de CD e vinil, ‘All is Lost’ presenteia o ouvinte com um refrescante, mélico, edénico e afagante Psych Rock que tanto se aquieta, suaviza e eteriza num admirável, idílico e apaixonante Folk de fascinante narrativa campesina, como se metamorfoseia, engrandece e obscurece num pantanoso, vagaroso, narcotizante e sonolento (no sentido elogioso da palavra) Heavy Psych à boa moda de Dead Meadow. A sua sonoridade de beleza sublimada, apurada e consumada – que se espreguiça do carismático território revivalista ao mais contemporâneo – remete o ouvinte para um deslumbrante universo visual onde tímidos raios solares pincelam de luz, desvendando cuidadosa e paulatinamente todos os contornos da bucólica e nebulosa madrugada que climatiza uma orvalhada paisagem outonal, tingida e envelhecida a sépia. Embriagados de uma maviosa e caramelizada melancolia que nos massaja todos os membros e sentidos, somos forçados a ceder perante a dominante gravidade exercida por ‘All is Lost’ que nos envolve, enfeitiça e sepulta nas vertiginosas profundezas de uma quimérica ambiência onírica. De pálpebras tombadas, cabeça baloiçante e corpo dormente, somos hipnotizados, mumificados e embalados numa prazerosa letargia tricotada por duas encantadoras guitarras de afectuosos, anestésicos, delicados e harmoniosos acordes dedilhados e condimentados a pura e estarrecedora formosura, que indiscreta e progressivamente se avolumam e sombreiam em poderosos riffs de onde florescem e se envaidecem uivantes, ácidos e intoxicantes solos, uma cativante bateria que evolui de uma leve e intimista percussão de natureza tribalista e ritualista para desenfreadas e desembaraçadas galopadas incendiadas a empolgamento, um murmurante baixo de reverberação conduzida a linhas pulsantes, flexíveis, magnéticas e dançantes, e capitaneada por uma tonificante e aliciante voz feminina de tez charmosa, melódica, aveludada e fibrosa que se hasteia, glorifica e pavoneia com destacada lubricidade. De louvar ainda o fantástico artwork – superiormente ilustrado pelo facilmente identificável e de talento inesgotável Adam Burke – que confere toda uma emblemática misticidade visual a este irresistível ‘All is Lost’. Tanto dele esperava e tudo ele me trouxe. Este álbum de estreia de Dead Feathers representa o alcançar de um imaculado estádio de espantosa maturação que desculpa todos estes anos remetidos ao silencioso jejum discográfico. ‘All is Lost’ é um álbum deveras arrebatador que nos corteja do primeiro ao derradeiro tema. São 48 minutos completamente absorvidos por uma desarmante e purificante melosidade que nos enleva sem qualquer timidez. Um registo atestado de uma refinada inspiração que me impactara e conquistara de forma muito singular. Estamos mesmo na presença de um dos mais aprumados discos nascidos em 2019. Banhem-se neste balsâmico néctar sonoro e vivenciem com toda a entrega e devoção um dos álbuns (por mim) mais aguardados dos últimos anos.

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1 comentário:

Pablito Barros disse...

Motivado pelo texto procurei o álbum no streaming do Tidal e estou começando a ouvi-lo agora. Primeira impressão ótima. Se não fosse pelo blog jamais saberia da existência. Não é o tipo de álbum que frequenta as publicações de música popular mundo agora. Obrigado.