Depois de em 2017 ter experienciado e aqui largamente elogiado o adorável EP de estreia ‘No
Water’ – premiando-o mesmo como um dos melhores EP’s desse ano
(listagem completa aqui) – sinto-me agora impelido a renovar esta incontida
apologia ao tridente nipónico Dhidalah, que acabara de disponibilizar
para escuta integral o seu muito esperado primeiro trabalho de longa duração. Apesar
do seu lançamento oficial estar agendado apenas para o próximo dia 30 do
presente mês de Novembro pela mão do influente selo discográfico Guruguru
Brain em formato físico de vinil, 'Threshold’ estreara hoje o seu formato digital
através da página de Bandcamp e eu prontifiquei-me a digeri-lo sem
demoras. Natural da cidade-capital de Tóquio, esta jovem e muito auspiciosa
banda japonesa desenvolvera uma fascinante alquimia sonora que conjuga a bizarra
excentricidade da carismática formação germânica Ash Ra Tempel com a arrojada
incandescência dos contemporâneos californianos Earthless. Tendo como
base um cativante, hipnótico, enigmático e dançante Krautrock de clara propensão
estelar que nos tomba as pálpebras, balanceia o corpo e massaja o cerebelo, a
musicalidade de ‘Threshold’ desenvolve-se indiscreta e progressivamente
para os chamejantes domínios de um efervescente, místico, esquizofrénico e
alucinante Heavy Psych temperado a um intenso e berrante experimentalismo
de idioma alienígena que nos desenraíza a consciência e a arremessa violentamente
na vertiginosa direcção da intimidade cósmica. Uma profunda e enlouquecedora
narcose na qual embarcamos e não mais regressamos. Empoeirem-se nas brumosas e
coloridas nebulosas de ‘Threshold’ e embalem nesta vertigem
sensorial à boleia de um baixo deliciosamente Krauty que se conduz e
seduz por linhas pulsantes, sinuosas, densas e magnetizantes, uma empolgada e
turbulenta bateria de galope atiçado, veemente e desenfreado, um enfeitiçante sintetizador
de encantadores coros celestiais, e uma guitarra exploratória que se serpenteia
em portentosos, obscuros, arábicos e poderosos Riffs de onde se libertam
descontrolados, ácidos, rutilantes e excitados solos de toxicidade a perder de
vista. Num plano de destaque secundário e presença limitada a apenas um dos
temas, está uma atormentada voz enclausurada, distorcida e soterrada na densa radiação
noisy que vigia e governa toda a atmosfera do álbum. ‘Threshold’
é um registo varrido por múltiplos ciclones tecidos a endorfina. Um disco de consumo
impróprio para cardíacos que deixará todos os seus ouvintes de pupilas
dilatadas, corpos transpirados e respiração ofegante. Deixem-se dissolver na
psicotrópica demência de Dhidalah e contagiar pelo sónico exotismo
destilado pelo seu impactante álbum de estreia.
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