quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Review: ⚡ KARKARA - ‘Crystal Gazer’ (2019) ⚡

Da cidade francesa de Toulose chega-nos o exótico álbum de estreia do tridente KARKARA. Oficialmente lançado no final do passado mês de Outubro sob a forma física de CD (através do selo discográfico inglês Stolen Body Records), vinil (numa edição padronizada, disponibilizada pela Stolen Body Records, e ainda noutra de edição autoral, personalizada e limitada a uma prensagem de apenas 100 cópias disponíveis) e cassete (pelo modesto selo francês Ghost Lizard Diffusion – unicamente especializado neste formato – e ultra-limitada a 30 cópias existentes), este ‘Crystal Gazer’ vem ungido e purificado por um hipnótico, obscuro, letárgico e psicotrópico Krautrock que nos desancora da gravidade consciencial para nos verter e desmaiar no frio, negro e solitário manto astral, e tingido e ritmado pela fervilhante fusão de um tribalístico, carnavalesco, burlesco e ritualístico Psych RockSurf Rock extravagantemente trajados por um profundo misticismo oriental que nos domina, fascina e obriga a dançá-lo de forma detida e apaixonada. A sua sonoridade de textura e formosura étnica traz-nos os perfumados, quentes e inebriados ares da velha e mítica Pérsia, empoeirando e embaciando a percepção da nossa lucidez com uma intensa e deslumbrante sensualidade, e incitando todos os nossos membros corporais a serpenteá-la da mesma forma que uma serpente Naja dameja os magnetizantes bailados da flauta indiana. Na composição deste terapêutico e ataráxico elixir – capaz de despertar e aflorar o que de mais íntimo e prazeroso se esconde nas labirínticas profundezas da nossa espiritualidade – está uma guitarra afrodisíaca que se manifesta em ondulantes, eróticos, vaidosos e dançantes riffs fervidos e corroídos em efeito Fuzz, e se extravia e enlouquece em alucinantes, distorcidos, electrizantes e atordoantes solos de elevada toxicidade, um baixo magnético de reverberação empolada, ziguezagueante, bailante e fibrada, uma bateria tribal a trote de uma ritmicidade constante mas empolgante, um delirado sintetizador de frequência cósmica, um enigmático didgeridoo de idioma e difusão alienígena, e ainda uma voz messiânica que lidera toda esta sagrada peregrinação pelas sedosas e bronzeadas dunas do deserto árabe. O artwork – soberbamente detalhado, colorido e aureolado por uma ambiência indígena – é da autoria da Dead Flag Studios que traduzira com desarmante precisão para o universo visual tudo o que a musicalidade de ‘Crystal Gazer’ edifica no imaginário do ouvinte. Este é um álbum de natureza singular que me maravilhara do primeiro ao derradeiro tema. São 42 minutos de uma arrebatadora cerimónia tribalista que nos faz elevar as mãos na direcção das estrelas e embater repetidamente os pés despidos no verdejante solo de uma selva entregue a si mesma. Deixem-se contagiar e converter pela exótica sublimidade de KARKARA e testemunhar na primeira pessoa toda a acalorada erupção de um dos álbuns mais incomuns de 2019.

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