Da cidade francesa de Toulose
chega-nos o exótico álbum de estreia do tridente KARKARA. Oficialmente lançado
no final do passado mês de Outubro sob a forma física de CD (através do selo
discográfico inglês Stolen Body Records), vinil (numa edição padronizada,
disponibilizada pela Stolen Body Records, e ainda noutra de edição
autoral, personalizada e limitada a uma prensagem de apenas 100 cópias disponíveis)
e cassete (pelo modesto selo francês Ghost Lizard Diffusion – unicamente
especializado neste formato – e ultra-limitada a 30 cópias existentes), este ‘Crystal
Gazer’ vem ungido e purificado por um hipnótico, obscuro, letárgico e psicotrópico
Krautrock que nos desancora da gravidade consciencial para nos verter e
desmaiar no frio, negro e solitário manto astral, e tingido e ritmado pela fervilhante
fusão de um tribalístico, carnavalesco, burlesco e ritualístico Psych Rock
& Surf Rock extravagantemente trajados por um profundo misticismo
oriental que nos domina, fascina e obriga a dançá-lo de forma detida e
apaixonada. A sua sonoridade de textura e formosura étnica traz-nos os
perfumados, quentes e inebriados ares da velha e mítica Pérsia, empoeirando e
embaciando a percepção da nossa lucidez com uma intensa e deslumbrante sensualidade,
e incitando todos os nossos membros corporais a serpenteá-la da mesma forma que
uma serpente Naja dameja os magnetizantes bailados da flauta indiana. Na
composição deste terapêutico e ataráxico elixir – capaz de despertar e aflorar
o que de mais íntimo e prazeroso se esconde nas labirínticas profundezas da
nossa espiritualidade – está uma guitarra afrodisíaca que se manifesta em ondulantes,
eróticos, vaidosos e dançantes riffs fervidos e corroídos em efeito Fuzz, e se
extravia e enlouquece em alucinantes, distorcidos, electrizantes e atordoantes solos
de elevada toxicidade, um baixo magnético de reverberação empolada, ziguezagueante,
bailante e fibrada, uma bateria tribal a trote de uma ritmicidade constante mas
empolgante, um delirado sintetizador de frequência cósmica, um enigmático didgeridoo
de idioma e difusão alienígena, e ainda uma voz messiânica que lidera toda esta sagrada peregrinação
pelas sedosas e bronzeadas dunas do deserto árabe. O artwork – soberbamente
detalhado, colorido e aureolado por uma ambiência indígena – é da autoria da Dead Flag Studios que traduzira com desarmante precisão para o universo visual tudo
o que a musicalidade de ‘Crystal Gazer’ edifica no imaginário do
ouvinte. Este é um álbum de natureza singular que me maravilhara do primeiro ao
derradeiro tema. São 42 minutos de uma arrebatadora cerimónia tribalista que nos
faz elevar as mãos na direcção das estrelas e embater repetidamente os pés
despidos no verdejante solo de uma selva entregue a si mesma. Deixem-se
contagiar e converter pela exótica sublimidade de KARKARA e testemunhar na primeira pessoa toda
a acalorada erupção de um dos álbuns mais incomuns de 2019.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Stolen Body Records
➥ Ghost Lizard Diffusion
➥ Bandcamp
➥ Stolen Body Records
➥ Ghost Lizard Diffusion
Sem comentários:
Enviar um comentário