Directamente de Boston (a capital
e mais populosa cidade do estado norte-americano de Massachusetts)
chega-nos ‘Warm Shadows’, o ardente e excitante novo álbum do
irreverente tridente Zip-Tie Handcuffs. Lançado no Verão já findado não
só em formato digital como nos formatos físicos de vinil (edição autoral) e
cassete (ultra-limitada a uma reduzida edição de apenas 100 cópias disponibilizadas
pelo selo discográfico nova-iorquino King Pizza Records), este provocante
registo vem lavrado e inflamado por um apimentado, flexível, furioso e despachado Garage-Punk de estética radical,
que é simultaneamente refrescado e desacelerado pela etérea e salgada brisa oceânica
de um dançante, hipnótico, lisérgico e cativante Surf-Rock trazido das ensolaradas
praias sessentistas, e colorado e abrasado por um vulcânico, enigmático,
agradável e messiânico Psych Rock de (in)discretas aproximações aos
territórios da Neo-Psychedelia. A sua sonoridade de bafagem veraneia e
exótica ritmicidade – tanto lavrada e acicatada por uma chamejante e
borbulhante efervescência que nos atesta e infesta de uma inquietante euforia,
quanto massajada e apaziguada por uma psicotrópica bonança que nos canaliza e nebuliza
numa ataráxica hipnose – encarcera o ouvinte num fascinado estádio de intensa e
fremente devoção que o corteja do primeiro ao derradeiro tema. Como
ingredientes deste caldeirão abraçado pelas chamas e em constante ebulição
estão uma guitarra catalisadora de serpenteantes, fogosos, acintosos e
urticantes riffs de onde se desenraízam desenfreados, gritantes, ondulantes
e alucinados solos de elevada toxicidade, um possante baixo de reverberação empolada,
fibrótica e sombreada, uma dinâmica bateria em polvorosa de cadência galopante,
frenética e entusiasmante, e ainda uma espectral, translúcida e ácida voz – perseguida
de perto por um angelical, melódico e cristalino coro vocal – que lidera com destacada
influência e magnificência toda esta contagiante revolução. Este ‘Warm
Shadows’ é um álbum imensamente incitante que nos esporeia e pontapeia os
batimentos cardíacos a alta rotação. Um desconcertante registo que – embora locomovido
e conduzido a duas velocidades contrastadas – nos envolve, revolve e dispara na
direcção de uma progressiva vertigem sem destino à vista.
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