Os druidas austríacos Pastor acabam
de provocar em mim uma estranha sensação de paladar agridoce com a publicação de um comunicado em
tudo inesperado e se sentimentos contrastados. Se por um lado, aquele seu longo silêncio que se seguira ao
lançamento do seu irrepreensível álbum de estreia ‘Evoke’ brotado
no já distante verão de 2015 (review aqui) parecia amadurecer as
suspeitas do término deste projecto, o lançamento surpresa de um segundo e –
infelizmente – derradeiro álbum deixara-me boquiaberto e de coração ofegante. ‘Unveil’
representa assim a despedida oficializada de uma banda que, apesar da sua curta
discografia, imortalizara em mim uma posição de grande destaque por entre as mais
consagradas referências musicais. Justificando este cessar de actividade há
muito anunciada de Pastor com a inteira dedicação dos seus membros no
desenvolvimento criativo de projectos paralelos, o quarteto natural da
cidade-capital de Viena não deixara de se reunir para presentear todos
os seus seguidores com a gravação de um novo álbum (e que álbum!) que fora
ontem integralmente disponibilizado no exclusivo formato digital – e com a
sempre simpática possibilidade de download gratuito – através da sua página de Bandcamp
oficial. Expelido de um caldeirão em intensa, esverdeada e borbulhante ebulição onde
coabitam um electrizante, erosivo, dinâmico e excitante Heavy Psych à
boa moda dos norte-americanos Witch, um tenebroso, obscuro, luciférico e
poderoso Proto-Doom de ressonância Black Sabbath’ica,
e ainda um rutilante, combativo, altivo e flamejante Heavy Metal de raiz
tradicional a homenagear vultosos nomes como Judas Priest ou Iron
Maiden, este ‘Unveil’ é um álbum inteiramente lavrado à minha
imagem. De incontida euforia transudada por todos os meus poros, sou
violentamente arremessado para o epicentro de um alucinante, ciclónico e
endiabrado vórtice que me subtrai toda a lucidez e atesta de uma saturada adrenalina.
A sua impactante sonoridade é fervida e locomovida a virilidade, destreza,
esperteza e celeridade. Uma incessante e voraz cavalgada à rédea solta que nos faz
resvalar nas costuras fronteiriças da sanidade. Entrem em explosiva e prazerosa
erupção perante a simbiótica e orgásmica conjugação entre duas guitarras
aparentadas e dialogantes que se engrandecem, revigoram e enegrecem na ascensão
de monstruosos, dominantes, inquisidores e ostentosos Riffs de onde
florescem, gritam e se endoidecem ziguezagueantes, sónicos, frenéticos e
esvoaçantes solos, um baixo monolítico de linhas possantes, sísmicas, tensas e
perturbantes, uma bateria impetuosa e rumorosa que irrompe em desenfreadas, arrojadas,
selváticas e enlouquecedoras galopadas de consumo impróprio para cardíacos, e
uma voz de tonalidade acidificada, escarpada, diabrina e azedada que completa
toda esta profunda efervescência onde todos os nossos sentidos mergulham e se perdem.
Chego ao final de ‘Unveil’ espiritual, sensorial e fisicamente extenuado
por vivenciá-lo de forma tão submissa e apaixonada. O tranquilo e contemplativo
silêncio que se lhe segue deixara o meu olhar lacrimejante a destoar com um
vibrante sorriso no rosto. Que esta sua tão estonteante, turbulenta e pujante
vivacidade seja glorificada e continuada nos restantes projectos destes
austríacos. Nunca uma despedida soara tão triunfante como esta que Pastor nos deixara. Chegou a hora do rebanho seguir o seu próprio caminho.
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