Com quase 3 décadas de
existência, os ímpares Bohren & der Club of Gore preparam-se agora
para acrescentar à sua discografia o muito aguardado 11º trabalho de longa
duração. Com o seu lançamento oficial agendado para o dia de amanhã – sexta, 24
de Janeiro – pelo influente selo discográfico multinacional PIAS Recordings
(acrónimo de Play It Again Sam) nos formatos físicos de CD e vinil, ‘Patchouli
Blue’ vem dar o tão desejado prosseguimento à enigmática, envolvente, misteriosa e melancólica ambiência de orientação Film Noir superiormente segredada
e adensada pelos instrumentos desta muito peculiar e já emblemática formação germânica. Baseado
num lutuoso, demorado, hipnótico e pesaroso Doom-Jazz que nos remete
para uma noite fria e chuvosa de uma cidade pecadora onde o crime espreita a
cada esquina, ‘Patchouli Blue’ é um fabuloso álbum de
sensibilidade cinematográfica. Mãos soterradas nos largos e profundos bolsos de
longos sobretudos acariciam revólveres famintos, olhares suspeitosos brilham na embrumada penumbra deixada e recortada pela aba larga de negros chapéus, farolizados e enfeitiçados
pela ofuscante luminância flamejada e transbordada de uma janela despida – abraçada
pelo fosco negrume – onde no seu interior um ruborizado batom se passeia graciosamente
dentro dos limites territoriais de uns lábios murmurantes, um enegrecido rímel tonifica e
penteia as pestanas, e um elegante vestido de tonalidade púrpura é desdobrado
por toda a extensão de um corpo desnudo e decotado até às fronteiras da irresistível tentação. É esta a ambiência de intrigante e incessante sedução que ‘Patchouli
Blue’ edifica no meu imaginário. Toda uma fatídica trama que se
desprende das teclas de um funesto órgão de notas magnetizantes, sinistras e saltitantes,
sombreadas pela soturna e misantrópica radiância borrifada por um enigmático sintetizador
que ausculta as trevas, da boquilha de um saxofone uivante que se serpenteia e
formoseia em extravagantes bailados, das vassouras luzidias que deixam todo um brilhante e poeirento lastro de pulsação ressoada de uma bateria detidamente entregue a uma ritmicidade
minimalista, arrastada e intimista, e das gordas cordas de um contrabaixo prostrado
que sussurra linhas pesadas, lastimosas, umbrosas e carregadas. Este é um álbum genuinamente cativante que nos petrifica e mergulha numa fumarenta atmosfera eclipsada e temperada pela doce
melancolia. Deixem-se seduzir e conduzir pela trágica e perversa narrativa de Bohren
& der Club of Gore e vivenciem de olhar intensamente fascinado uma das
mais inspiradas odes aos nostálgicos e glamorosos policiais brilhantemente produzidos nas
velhas décadas de 1940 e 1950. Não vai ser nada fácil regressar dos nebulosos, intimidantes
e caliginosos becos citadinos de ‘Patchouli Blue’ por onde nos
perdemos e entretemos ao longo de sensivelmente 60 minutos.
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