Review: ⚡ Sula Bassana - 'The Box' (2020) ⚡

Na iminência de alcançar a invejável marca de duas décadas de prolífica existência a solo, o inspirado multi-instrumentista de origem germânica Sula Bassana (denominação artística de Dave Schmidt) prepara-se para apresentar um registo muito especial. Prestes a ser oficialmente lançado pela influente editora discográfica alemã Sulatron Records (gerenciada pelo próprio) numa estética e muito apelativa edição física de 6 CD’s com prensagem ultra-limitada a apenas 500 unidades disponíveis para venda, bem como através do selo discográfico nórdico Pancromatic Records sob a forma física de 6 vinis, ‘The Box’ encerra todo um harmonioso equilíbrio entre uma saudosa retrospectiva discográfica – onde são resgatados e recordados velhos trabalhos como ‘Endless Winter’ (Sulatron Records, 2006), ‘Silent Music’ (Sulatron Records, 2009), ‘Retronique’ (retirado de um split partilhado com Vibravoid e lançado em 2003 pela editora germânica Nasoni Records) e ‘Disappear’ (retirado de um split repartido com 3AM e lançado em 2014 pela editora holandesa Headspin Records) – e todo um sortido de conteúdo – lavrado a uma guitarra delirante, alucinógena e atordoante, e aureolado por uma exótica esfera de pura essência electrónica – nunca antes exibido pelo músico. De âncoras recolhidas e velas hasteadas e capitaneadas ao sabor de um envolvente, lenitivo, repetitivo e eloquente Krautrock de atmosfera intimista, hipnótica e minimalista, em parceria com um viajante, místico, ritualístico e intrigante Space Rock de extravagância experimental, somos arremessados pela profética aura de Sula Bassana para a medula de um Cosmos gélido, soturno e inexplorado. Climatizada e aromatizada por uma ambiência de tez electrónica, a messiânica sonoridade de Sula Bassana é tricotada, expandida e condimentada com base numa profusão de instrumentos que se vão perfilando e amontoando entre si, criando assim todo um complexo, colorido e fascinante diálogo alienígena do qual a nossa atenção não consegue escapar. Absorvido por esta teia que se adensa, o ouvinte escorrega pelas labirínticas profundezas de um universo onírico sem garantias dele poder regressar. Envoltos num febril estádio de irreversível solitude somos abandonados num inverno estelar que nos empalidece e arrefece a alma com uma incessante e reconfortante melancolia. Anestesiados e deslumbrados pela criativa e evolutiva improvisação espontânea do cosmonauta Sula Bassana, ingressamos numa perpétua dança em órbita de um ofuscante transe espiritual. ‘The Box’ apresenta e ostenta toda uma fabulosa, extensível e gloriosa odisseia pelo enfeitiçante universo de Sula Bassana. Uma estarrecedora digressão pelo lúgubre negrume de um Cosmos enlutado e condenado à solidão. De destacar ainda o devocional artwork – imensamente influenciado pela geometria sagrada e de créditos apontados a Dr. Knoche – que ornamenta esta verdadeira preciosidade digna de assegurar presença cativa por entre as colecções discográficas de todos os amantes do género que se prezem.

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