sábado, 4 de janeiro de 2020

Review: ⚡ Tortuga - 'Deities' (2020) ⚡

Da Polónia – a actual meca da música Doom – chega-nos o segundo e novo álbum do quarteto Tortuga. Depois de no inverno de 2017 terem lançado o seu homónimo álbum de estreia (aqui desconstruído e elogiado), estes polacos enraizados na cidade de Poznan brindam e prazenteiam agora todos os apaixonados do género com o inspirador ‘Deities’, um imersivo registo de perfil conceptual – integralmente inspirado pelo horror fantástico e de ficção-científica superiormente criado e alimentado pelo admirável, vanguardista e inimitável escritor norte-americano H. P. Lovecraft – que alavancara a banda para uma crescente exposição à reputação. Tendo como epicentro um misantrópico, misterioso, brumoso e narcótico Psych Doom que nos enegrece, entristece e enlameia a alma, a intrigante, mística, ritualística e hipnotizante sonoridade de ‘Deities’ balanceia-se entre um lamacento, corrosivo, inflamado e musguento Sludge Metal e um pausado, ácido, reflexivo e inebriado Psych Rock de propensão e contemplação astral. Numa prodigiosa odisseia espiritual de atmosferas desiguais, somos tingidos e invadidos por um verdadeiro sortido de sensações divergentes. E é esta complexa musicalidade testemunhada em ‘Deities’ – detentora de uma incrível capacidade camaleónica de sucessivamente se distanciar de um género assim que o mesmo é sentido, apaladado e reconhecido pelo ouvinte para de seguida, numa discreta e progressiva transmutação, se aproximar e camuflar num outro género completamente contrastado – que faz deste novo registo de Tortuga, um álbum imensamente fascinante de escoltar e experienciar. De sentidos acordados somos embarcados numa deslumbrativa hipnose que nos canaliza e eteriza ao longo dos seus 55 minutos de duração. Na composição desta eclética manifestação estão duas guitarras dialogantes que se engrandecem à boleia de polposos, arábicos, prismáticos e poderosos Riffs sorvidos e consumidos pelo erosivo efeito Fuzz, e se ensoberbecem na orientação de solos cortantes, gélidos, lisérgicos e esvoaçantes, um baixo soturno de pesada, densa, tensa, magnética e ondeada reverberação, uma bateria corpulenta de compasso lenta, forte e pesadamente marchado, e uma voz liderante de tez insípida, inexpressiva e pálida que só no derradeiro tema se robustece, revolve, incendeia e enfurece. De estender ainda os louvores ao aparatoso, fabular e pavoroso artwork de natureza Lovecraft’eana brilhantemente ilustrado pelo já consagrado artista gráfico polaco Rafał Wechter (aka Too Many Skulls). Deixem-se engolir pela assombrosa, fumarenta, ciclópica e vultosa avalanche sonora de ‘Deities’ e vivenciem com crescente encantamento uma das mais excepcionais homenagens musicais dedicadas ao mestre literário Howard Phillips Lovecraft. Não vai ser nada fácil emergir e acordar das profundezas deste sonho lúcido.

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