Da cidade-capital de Atenas
(na Grécia) chega-nos o refinado, entusiástico e inspirado álbum de
estreia do faustoso e muito auspicioso jovem quarteto helénico Electric Feat.
Lançado muito recentemente sob a forma física de vinil e em formato digital através do selo
discográfico seu compatriota Inner Ear Records, este charmoso, aprumado e
deleitoso registo de designação homónima enverga um musculado, descontraído e lubrificado
Hard Rock de roupagem clássica e maquilhado por um ácido psicadelismo de raiz sessentista, um dançante, erótico e provocante Heavy
Blues de odor setentista e ainda um intrigante, ensombrado e hipnotizante Proto-Doom de
indiscreta vocação Black Sabbath’ica. A sua sonoridade de
simetria elegante, vistosa, prazerosa e imensamente contagiante – tingida a um
carismático e aromático revivalismo – pavoneia-se de forma tentadora, provocando
no ouvinte toda uma ofuscante fascinação que lhe inebria os sentidos e uma inestancável
salivação que lhe atesta a boca e os ouvidos. De alma siderada e corpo detidamente
envolvido e revolvido numa dança serpenteante, somos absorvidos, incitados e canalizados
pela harmoniosa, contagiosa, extravagante, deslumbrante e libidinosa manifestação deste exótico
cabaret brilhantemente orquestrado por uma guitarra alterosa que se ensoberbece
na sublime orientação de cavalheirescos, opulentos, apoteóticos e romanescos Riffs
de nuance Led Zeppelin’esca, e se endoidece na vibrante libertação
de solos profusos, pornográficos, enfáticos e garbosos, um bafejante, denso e dominante
baixo soberbamente groovy de linhas empoladas, latejantes, flutuantes e
torneadas, uma empolgada bateria de atordoantes acrobacias cuidadosa e irrepreensivelmente
executadas a graciosidade, leveza, subtileza e habilidade, e ainda um afagante,
excepcional e liderante vozeirão de aparência fervorosa, melódica, trovadora e
volumosa – situada por entre os ensolarados rugidos de Robert Plant, a gélida
acidez de Ozzy Osbourne e o sóbrio lirismo de Jim Morrison – que
agarra decididamente a maior fatia de protagonismo. De estender ainda os aplausos
ao pitoresco e burlesco artwork devidamente ilustrado pelo artista grego
Kostas Stergiou. Este ‘Electric Feat’ é um álbum de beleza
lapidar, inteiramente climatizado por um flamejante, distinto e desarmante
primor, que me prendera, embevecera e maravilhara sem a mais pequena réstia de inibição. Deixem-se embeber, namorar e arrebatar pela mística, feérica e edénica virtuosidade destilada de Electric
Feat e vivenciem de forma vivida e apaixonada um dos mais surpreendentes trabalhos
desabrochados nesta ainda fresca e orvalhada primavera de 2020.
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