Com apenas um álbum e dois EP’s
gravados e lançados na já longínqua e derradeira viragem para o presente século
XXI, os popularmente consagrados Lowrider conquistaram e cimentaram um
invejável estatuto de banda lendária por entre a crescente comunidade integrante
do movimento vulgarmente apelidado de Stoner Rock. E se nem um extenso
jejum de duas décadas longe dos estúdios de gravação estremecera e enfraquecera
essa prestigiante posição ostentada pela formação sueca, o surpreendente anúncio
de um novo álbum fizera com que os corações de todos aqueles que a elevam a
divindade se agitassem e retumbassem de entusiasmada expectativa. ‘Refractions’
é o título deste tão suspirado e exultado regresso de Lowrider aos trabalhos
discográficos que a emergente editora Blues Funeral Recordings tratara
hoje mesmo de promover nos formatos físicos de CD e vinil. E se na realidade
são vinte anos que separam o histórico e apoteótico álbum de estreia ‘Ode
To Io’ (MeteorCity, 2000) deste seu tão celebrado sucessor, ‘Refractions’
vem atestado do mesmo combustível que propulsionara e glorificara os Lowrider
no seu meteórico começo de carreira, criando – assim – no nosso imaginário, toda
uma ludibriante noção de estreitamento temporal que desarticula os nascimentos destes dois registos. Sustentada e norteada por um musculoso, vibrante,
trovejante e rumoroso Heavy Rock de carregados e sombreados rugidos Doom’escos
que se alia a um ensolarado, inflamante, provocante e harmonizado Desert
Rock à boa moda dos 90’s, a bronzeada, vulcânica e saturada sonoridade de ‘Refractions’
sacode-nos, cega-nos e remete-nos para as infindáveis, apreciáveis e poeirentas
estradas de um calejado e fervilhante deserto à alucinante e purificante boleia
de um furioso, potente e ruidoso Muscle Car que – deixando na sua
retaguarda toda uma densa e extensa bruma de poeira – progride a galopante e
atordoante velocidade na vertiginosa direcção de um bocejante, corado e
inebriante Sol de estação crepuscular que se debruça e desmaia no chamejante,
desfocado e ofuscante firmamento. Na génese desta monstruosa combustão estão
duas titânicas guitarras motorizadas, capitaneadas a monolíticos, abrasados, fibrosos
e graníticos Riffs espinhados pelo corrosivo efeito Fuzz, e ziguezagueantes,
gritantes, delirados e uivantes solos de elevada toxicidade, um imponente baixo
de bafejantes, pesadas, sombrias, encorpadas e ressonantes descargas, uma forte
e galopante bateria esporeada e apimentada a uma intensa explosividade rítmica, um aromático, carismático e majestoso Hammond que dá cobertura melódica a um dos temas integrantes, e ainda uma voz mélica, incandescente e sidérica transpirada e despontada das
entranhas deste feroz vulcão em constante erupção. De destacar ainda pela positiva o fabuloso
artwork brilhantemente ilustrado pelo talentoso e criativo artista germânico Max Löffler que confere assim rosto a uma das obras mais ansiadas dos últimos
anos. ‘Refractions’ é um irresistível álbum de contornos epopeicos, do tamanho e simetria das grandiosas expectativas a ele previamente dedicadas, que não só conquistará
todos os seus ouvintes, como estará seguramente espelhado por entre os melhores
álbuns confeccionados em 2020.
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