quinta-feira, 12 de março de 2020

Review: ⚡ Dirt Woman - 'The Glass Cliff' (2020) ⚡

Da pequena cidade costeira de Ocean City – banhada pelo oceano Atlântico e localizada no estado americano de Maryland – chega-nos um dos álbuns por mim mais aguardados de 2020. ‘The Glass Cliff’ é o segundo e novo registo do quarteto Dirt Woman que verá a luz do dia amanhã através da Grimoire Records sob a forma física de CD e em formato digital através da sua página de Bandcamp oficial. Enlameado, obscurecido e esconjurado por um vigoroso, arrastado, narcotizado e umbroso Psychedelic Doom de ressonância Black Sabbath’ica, este jupiteriano ‘The Glass Cliff’ provocara em mim todo um imperturbável estádio de obcecante fascinação e vulcânica comoção que me enfeitiçara e oxigenara ao longo de toda a sua duração. Posicionada no ponto de intersecção entre o luciférico negrume bafejado pelos Windhand, o esotérico misticismo doutrinado por Electric Wizard, a ardente ferocidade rugida pelos High On Fire e a febril pujança detonada pelos druidas Sleep, a majestosa, rebuscada, inspirada e poderosa sonoridade transpirada de ‘The Glass Cliff’ arrasta-se pesadamente e agiganta-se tiranamente do primeiro ao derradeiro tema. São 56 minutos governados e eclipsados por uma densa, negra e tensa radiância onde se revolvem e trovejam duas guitarras soturnas de Riffs fumarentos, enfáticos, enigmáticos e bafientos, e solos rutilantes, ácidos, delirados e ondulantes, um baixo vagaroso, massivo e pastoso de linhas carregadas, lubrificadas e tonificadas a uma encorpada, sombria e abafada reverberação, uma possante, enérgica e vivificante bateria tiquetaqueada e galopada a uma ritmicidade aparatosa, implosiva e luminosa, e ainda uma voz melódica, ecoante, esvoaçante e fantasmagórica que se reergue das profundezas abissais para se libertar, envaidecer e flamejar de luzência à tona de toda esta melancólica e trágica pretura. O expressivo artwork – superiormente pincelado e matizado – aponta os seus créditos autorais ao prendado artista norte-americano Hayden Hall. É, portanto, de expectativas – a ele previamente amadurecidas e dedicadas – largamente saciadas, que me encontro na ressaca em mim deixada pelo mesmo. ‘The Glass Cliff’ é um álbum inteiramente sulfatado e nebulizado por uma psicotrópica aura que nos subtrai a lucidez e preenche de plena embriaguez. Sintam-se afundar nesta absorvente narcose temperada a letargia e seguidamente eclodir num redentor grito catapultado pelo intenso prazer. Pestanas tombadas, cabeça baloiçada, membros prostrados, sentidos siderados e coração ancorado em Dirt Woman. Um dos mais marcantes álbuns lançados ainda nesta alvorada de 2020 está aqui, nas trevas purificantes de ‘The Glass Cliff’. Contaminem-se e bronzeiem-se na sua profana e insana refulgência.

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