Da pequena cidade costeira
de Ocean City – banhada pelo oceano Atlântico e localizada no estado
americano de Maryland – chega-nos um dos álbuns por mim mais aguardados
de 2020. ‘The Glass Cliff’ é o segundo e novo registo do quarteto
Dirt Woman que verá a luz do dia amanhã através da Grimoire Records
sob a forma física de CD e em formato digital através da sua página de Bandcamp
oficial. Enlameado, obscurecido e esconjurado por um vigoroso, arrastado,
narcotizado e umbroso Psychedelic Doom de ressonância Black
Sabbath’ica, este jupiteriano ‘The Glass Cliff’ provocara
em mim todo um imperturbável estádio de obcecante fascinação e vulcânica
comoção que me enfeitiçara e oxigenara ao longo de toda a sua duração. Posicionada
no ponto de intersecção entre o luciférico negrume bafejado pelos Windhand,
o esotérico misticismo doutrinado por Electric Wizard, a ardente
ferocidade rugida pelos High On Fire e a febril pujança detonada pelos druidas Sleep,
a majestosa, rebuscada, inspirada e poderosa sonoridade transpirada de ‘The
Glass Cliff’ arrasta-se pesadamente e agiganta-se tiranamente do
primeiro ao derradeiro tema. São 56 minutos governados e eclipsados por uma densa,
negra e tensa radiância onde se revolvem e trovejam duas guitarras soturnas de Riffs
fumarentos, enfáticos, enigmáticos e bafientos, e solos rutilantes, ácidos,
delirados e ondulantes, um baixo vagaroso, massivo e pastoso de linhas
carregadas, lubrificadas e tonificadas a uma encorpada, sombria e abafada reverberação,
uma possante, enérgica e vivificante bateria tiquetaqueada e galopada a uma
ritmicidade aparatosa, implosiva e luminosa, e ainda uma voz melódica, ecoante,
esvoaçante e fantasmagórica que se reergue das profundezas abissais para se libertar,
envaidecer e flamejar de luzência à tona de toda esta melancólica e trágica pretura.
O expressivo artwork – superiormente pincelado e matizado – aponta os
seus créditos autorais ao prendado artista norte-americano Hayden Hall.
É, portanto, de expectativas – a ele previamente amadurecidas e dedicadas – largamente
saciadas, que me encontro na ressaca em mim deixada pelo mesmo. ‘The
Glass Cliff’ é um álbum inteiramente sulfatado e nebulizado por uma
psicotrópica aura que nos subtrai a lucidez e preenche de plena embriaguez.
Sintam-se afundar nesta absorvente narcose temperada a letargia e seguidamente
eclodir num redentor grito catapultado pelo intenso prazer. Pestanas tombadas,
cabeça baloiçada, membros prostrados, sentidos siderados e coração ancorado em Dirt
Woman. Um dos mais marcantes álbuns lançados ainda nesta alvorada de 2020
está aqui, nas trevas purificantes de ‘The Glass Cliff’.
Contaminem-se e bronzeiem-se na sua profana e insana refulgência.
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