Da inesperada Estónia
chega-nos uma das mais agradáveis e veneráveis surpresas sonoras do ano. Refiro-me
ao homónimo álbum de estreia apresentado pelo quarteto Centre El Muusa
que fora lançado no último suspiro do anterior mês de Maio sob a forma física
de CD (limitado a 500 cópias disponíveis) e que no final do presente mês de
Junho terá uma edição igualmente limitada em formato de vinil pela mão do já
consagrado selo discográfico germânico Sulatron Records. Empoeirada e
enfeitiçada por um hipnótico, meditativo, imersivo e ritualístico Krautrock
a fazer recordar o xamanismo diluviano doutrinado pelos norte-americanos The Myrrors,
e um anestésico, nebuloso, odoroso e sidérico Neo-Psych de produção Lo-Fi
e sotaque sessentista, a exótica sonoridade de ‘Centre El Muusa’
é ainda aureolada e sobrevoada por um intuitivo, abstracto e criativo
experimentalismo electrónico de intrigante atmosfera Sci-Fi. Baloiçando
entre edénicas, sublimes, tranquilas e bucólicas paisagens tingidas a doce lisergia
que nos ensopam e adormecem os sentidos, e extravagantes, catárticos, enfáticos
e labirínticos carnavais de embaciada explosividade instrumental que nos perseguem
e endoidecem, somos firmemente embalados numa deslumbrante vertigem e escoados
na brumosa intimidade do imaginativo universo de Centre El Muusa. Na
génese desta intensa e demorada hipnose – oxigenada e condimentada a uma febril narcose –
está uma intoxicante guitarra de Riffs lenitivos, arábicos, serpenteantes
e repetitivos de onde espreitam e derramam solos uivantes, ofuscantes, ácidos e
inflamantes, um baixo murmurante de linhas magnetizantes, empoladas, ritmadas e
ondulantes, uma bateria tribalista de cadência espaçada, ecoante, penetrante e
relaxada, um sideral teclado de refrescantes, adoráveis, afáveis e pululantes
harmonias, e ainda um perfumado sintetizador de idioma alienígena que vaporiza,
colora e eteriza todo este temulento deslumbramento. Farolizados por um transe
religioso, somos canalizados para uma fantástica odisseia pelos perpétuos
desfiladeiros da nossa espiritualidade. Deixem-se soterrar e embrenhar no denso
torpor deste Cosmos bocejante, e experienciar um dos mais poderosos sedativos de
interiorização via auditiva. Não vai ser fácil despertar e escapar do compenetrado
estado de sonambulismo, em nós instaurado pela toxicidade dos estonianos Centre
El Muusa, e resgatar a lucidez que nos fora sufocada e sonegada pela efervescência druídica de um álbum inteiramente regado e oxigenado a mescalina.
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