Oremos. Alcançada e recentemente superada
a admirável marca de duas décadas de existência enquanto projecto a solo, o
talentoso multi-instrumentista neozelandês Craig Williamson parece não desacelerar a
sua inesgotável e louvável capacidade criativa ao serviço de Lamp of the
Universe, e o seu novíssimo 15º registo discográfico é bem demonstrativo
disso. Oficialmente lançado hoje mesmo pela mão da discográfica local Projection
Records através do formato digital e de duas edições ultra-limitadas em formato
físico de vinil, ‘Dead Shrine’ vem irrigado, oxigenado e endeusado por
um profético, divinal, espiritual e edénico Acid Folk matizado por um místico,
enfeitiçante, deslumbrante e caleidoscópico Psychedelic Rock de
propensão astral que nos desobstrói os trilhos do transe religioso e
canaliza a alma na direcção de um imersivo, purificante, magnetizante e meditativo
ritual de culto dedicado ao hinduísmo. A sua sonoridade de toada mântrica,
aliciante, intrigante e nirvânica tem o raro dom de nos eterizar, sublimar e
canonizar o espírito, recostando-nos num olimpo sensorial perfumado a
desarmante beatitude e melificado a incessante ataraxia. De olhar envidraçado,
narinas dilatadas, semblante descorado, corpo serpenteante e consciência içada nas
inacabáveis profundezas de um Cosmos bocejante e embaciado, somos convidados a
comungar a sagrada doutrina deste eremítico guru. Dissolvidos numa labiríntica
hipnose que nos adormece membros e sentidos, e mumifica num imperturbável
estádio de febril letargia, testemunhamos a desapropriação e deserção do Eu
numa constante levitação climatizada a sedada euforia. No leme de toda esta onírica
digressão pela inexplorada intimidade do nosso Cosmos interior, está uma voz sidérica e messiânica de reconfortantes,
inspiradoras e tocantes palavras, uma abençoada cítara de frondosos, esfíngicos,
excêntricos e requintados bailados, uma alucinógena guitarra embrumada pelo atordoante
efeito wah-wah que vomita solos borbulhantes, efervescentes e
intoxicantes, uma trovadora viola acústica de balsâmicos contos fabulares, um
baixo sussurrante de linhas bafejadas a uma reverberação ondulante, um mágico sintetizador
de mil coros celestiais que adensa todo um misticismo de idioma alienígena, e
uma bateria tribalista e embalante de ritmicidade constante, esponjosa e hipnotizante. O artwork
piramidal – superiormente detalhado por uma vistosa e prismática textura de
estética faraónica – é da autoria do ilustrador britânico Dale Simpson
que traduzira para o universo visual tudo aquilo que a musicalidade de ‘Dead
Shrine’ floresce e estabelece no nosso imaginário. Estamos na ilustre presença
uma obra de essência deífica e vocação ritualística capaz de embevecer e converter
em seus devotos peregrinos todos aqueles que nela se abrigarem. Deixem-se guiar
e consagrar pela transformadora resplandecência de ‘Dead Shrine’,
e eternizem-se na sua enigmática, diáfana e temulenta tranquilidade. Corações
ao alto. O nosso coração está e permanecerá em Lamp of the Universe.
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