Da cidade portuária de Szczecin
(mapeada na Polónia) chega-nos o portentoso álbum de estreia forjado
pelo auspicioso quarteto Power Plant, intitulado de ‘Cargo’ e oficialmente
lançado hoje mesmo pela mão do jovem selo discográfico polaco Galactic SmokeHouse
através do formato digital e CD. Desancorando o seu navio cargueiro nas quietas
águas de um contemplativo, ensolarado, deslumbrado e imersivo Space Rock
banhado e bronzeado a desarmante, sublimado e ofuscante psicadelismo, que
vai progredindo destemida e triunfantemente até alcançar, lavrar e combater os
revoltosos, negros, espessos e tormentosos mares de um fogoso, denso, tenso e impetuoso
Stoner Doom de saturação Grunge, a evolutiva, cinematográfica,
enfática e expressiva sonoridade de Power Plant pendula entre a edénica bonança
e a despótica tempestade, a embaciada letargia e a sedada euforia, a misantrópica
negrura e a quimérica luminosidade. De olhar semi-selado e petrificado,
semblante desbotado, cabeça pesadamente baloiçante e espírito intensamente atordoado
por toda esta intoxicante, fumarenta e enfeitiçante nebulosidade – nasalada pela
fresca formação polaca e untada a THC (tetrahidrocanabinol) –
somos narcotizados, perturbados e sepultados na obscurantista vacuidade do perpétuo
espaço interstelar. Este é um lugar onde a utopia e a distopia se entrelaçam e
unificam. Tecido e colorido por duas guitarras dialogantes que tanto se
enternecem em maviosos acordes de beleza deífica como se enfurece em titânicos Riffs
de bafagem demoníaca e solos trepidantes, ácidos, alucinógenos e rutilantes,
escoltado e sombreado por um possante baixo sobrecarregado a uma reverberação sufocante,
massiva, altiva e hipnotizante, e tiquetaqueado por uma absorvente bateria de
marcha arrojada, dinâmica e compenetrada, ‘Cargo’ é um álbum integralmente
climatizado a sedutora, embrumada e redentora soberania que nos ensurdece,
entontece e eteriza os sentidos sedentos de experienciar algo assim. São cerca
de 46 minutos gravitados por uma empoeirada, profunda e irresistível narcose – amuralhada
a sideral misticismo e perfurada pela mais esfaimada vontade de desvendar o
ocultismo – que nos mantém de corpo e alma firmemente atrelados à esfíngica
liturgia superiormente doutrinada pelos Power Plant. Uma das mais impactantes
surpresas sonoras do ano está aqui, na intrigante, diáfana e apaixonante bruma em
nós sulfatada e imortalizada por ‘Cargo’. Não vai ser fácil
contrariar todo este onírico torpor que nos invadira e entupira do primeiro ao
derradeiro tema, e reaver a lucidez que nos fora subtraída e asfixiada pelas
propriedades druídicas destes jovens polacos. Estamos na presença de um álbum
de natureza mutuamente esmagadora, exploradora, profética e emancipadora que
seguramente não deixará nenhum dos ouvintes recostado à indiferença.
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