Em 2017 redigia apaixonadas
palavras ao impactante álbum de estreia do irreverente power-trio de origem nórdica Ball (review aqui), e hoje – imensamente
deslumbrado e embriagado com a luciférica nasalação do fantástico registo que o sucede –
sinto-me forçado a replicar toda a minha desmoderada devoção apontada a esta sui
generis formação sediada na cidade-capital sueca de Estocolmo.
Lançado muito recentemente pela mão da parceria discográfica local entre a Horny Records e a Subliminal Sounds nos
formatos físicos de CD e vinil (este último ultra-limitado à prensagem de
apenas 300 exemplares disponíveis para venda), ‘Like You Are…I Once Was…Like I Am –
You Will Never Be’ ostenta um bélico, vigoroso, gorduroso e diabólico Hard
Rock de roupagem vintage, ensopado num efervescente, enérgico, vulcânico
e erodente Heavy Psych de bruma psicotrópica, e atemorizado por um ritualístico,
enfeitiçante, horripilante e enigmático Proto-Metal de galope revivalista e adoração
ocultista. A sua sonoridade fumegante, acrimónia e narcotizante – regada a diluviana lava
incandescente, e emporcalhada pelo borbulhante, abrasado e intoxicante efeito Fuzz
– é motorizada e carburada por uma guitarra pagã que se manifesta em afrodisíacos,
imperiosos, majestosos e monolíticos Riffs Iommi’escos
de onde trepam serpenteantes, ácidos, alcoolizados e esvoaçantes solos, um bafejante
baixo de possante, densa, tensa e ondulante reverberação, uma bateria combativa
de picante, enfática, dinâmica e rutilante ritmicidade, e ainda decrépitos vocais
de expressão depravada, cavernosa, oleosa e eriçada que lidera com distinção
toda esta vampírica liturgia. Deixem-se dissolver, consumir e revolver nas labaredas
infernais de Ball e vivenciem de forma detida e vivida este seu tão
ansiado regresso. Não vai ser fácil escoar toda a sedada euforia que nos
atestara e esporeara do primeiro ao último minuto. Escaldem-se e profanem-se neste sarcófago em constante
ebulição, e banhem-se no violento negrume que o assombra. Um dos meus registos favoritos do presente ano está aqui: na demoníaca combustão deflagrada por um álbum que aos meus ouvidos resvala nas fronteiras da perfeição.
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