Da cidade-capital de Praga
(República Checa) chega-nos o maravilhoso álbum de estreia sublimemente formulado
pelo quarteto Madhouse Express. Lançado na viragem da primeira para a
segunda metade do presente mês de Novembro sob a forma digital e ainda em
formato de vinil, ‘Surreal Meadow’ equilibra-se por entre uma
efervescência vulcânica que nos sobreaquece de ardente euforia, e uma nebulosidade
melancólica que nos arrefece de inebriante letargia. A sua obcecante sonoridade, orvalhada
a purificante misticismo, texturizada a transbordante psicadelismo e trajada a extravagante
revivalismo, desprende o floral aroma primaveril de um intoxicante, solarengo e
extasiante Neo-Psychedelic Rock de estirpe sessentista, e a refrescante
brisa salgada suspirada por um extravagante, serpenteado e dançante Surf Rock de ritmos Garageiros, ventos Western'eanos e arábicos devaneios. Influenciado por carismáticas referências dos vistosos 60's tais como The Doors, Jefferson Airplane e Ultimate Spinach, e climatizado por uma atmosfera onírica
que nos mergulha num profundo estádio de imperturbável sonambulismo, este
primeiro trabalho de longa duração hasteado pela refinada formação checa
liberta toda uma mágica profusão de toxinas. De olhar semi-selado, narinas dilatadas,
sorriso perpetuado no rosto, e cabeça bamboleada de ombro a ombro somos farolizados e cortejados por duas guitarras ácidas que rubricam caleidoscópicos, deslumbrantes
e utópicos acordes de beleza principesca, e vomitam ecoantes, delirados e esvoaçantes solos
de embriagante exotismo, um magnético baixo de bafagem pulsante, densa e flutuante,
uma bateria tribal de ritmicidade hipnótica, acrobática e estimulante, sidéricos
teclados de enfeitiçante alquimia superiormente musicada, e vocais joviais de
simetria aristocrática, burlesca e profética que chefiam com eloquente
distinção toda esta nirvânica e colorida digressão aos alucinantes anos 60. ‘Surreal
Meadow’ amortalha e embala o ouvinte numa prismática, majestática e
enlouquecedora narcose tingida a LSD. São 44 minutos de pura sinestesia
que nos escancara as portas da percepção e esvaia toda a nossa consciência
pelos infindáveis desertos da introspecção. Não vai ser fácil – ou sequer
desejado – regressar deste lúcido sonho sulfatado a etérea toxicidade.
Recostem-se confortavelmente, respirem pausada e profundamente, relaxem os
membros, e desmaiem neste encantado universo sensorial de Aldous Huxley.
Uma das mais impactantes surpresas sonoras desta ponta final de ano está aqui,
na estética, religiosa e enteogénica digressão de Madhouse Express pelos
desdobráveis firmamentos da nossa endeusada espiritualidade. Comunguem-no sem qualquer moderação, vivenciem-no sem qualquer inibição e reverenciem-no sem qualquer condição.
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
Review: ⚡ Madhouse Express - 'Surreal Meadow' (2020) ⚡
★★★★★
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