quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Review: ⚡ Domo - 'Domonautas Vol. 2' (2020) ⚡

★★★★

Um ano depois de apresentado o primeiro capítulo de uma fantástica expedição pelas umbrosas profundezas do espaço sideral (Review ao primeiro volume aqui), os espanhóis Domo presenteiam agora todos os seus ouvintes com uma renovada epopeia galáctica. Lançado no final do passado mês de Novembro pela mão da discográfica germânica Clostridium Records através do formato físico de vinil e ainda numa apelativa e especial edição sob a forma de CD que acopla os dois volumes num só disco, este ‘Domonautas Vol. 2’ é norteado por um fogoso, místico, esfíngico e arenoso Heavy Psych, um serpenteante, dinâmico, titânico e hipnotizante Heavy Prog, e ainda um glacial, meditativo, lenitivo e espiritual Space Rock. De pés enraizados nas bronzeadas, cálidas e sedosas areias do deserto árabe e cabeça soterrada nas fantasmagóricas nebulosas que vagueiam a intimidade do gélido Cosmos, somos repetidamente ricocheteados entre uma eufórica, efervescente e vulcânica excitação que à boleia das suas sinuosas ventanias de perfume arábico nos aquece e revolve, e uma morfínica, reflexiva e nirvânica mansidão que através de bonançosos interlúdios nos enternece e envolve. De olhar embaciado, semblante desmaiado e espírito embriagado somos içados pelos desdobráveis firmamentos do Universo, driblando solitários planetas suspensos na negra vacuidade, relampejantes meteoritos que golpeiam o infindável manto trevoso de ofuscante luz, e chamejantes fornalhas estelares que farolizam os náufragos. São 40 minutos de incessante transcendência que nos eteriza e canaliza de encontro a um imperturbável estádio de puro transe. Na génese desta deslumbrante liturgia espacial condimentada a incensos pérsicos estão duas guitarras faraónicas de estimulantes, eruptivos e possantes Riffs fervidos em magmático efeito Fuzz, e solos ecoantes, alucinógenos e intoxicantes, um musculado baixo valvulado a linhas magnetizantes, ondulantes e fibradas, uma expressiva bateria locomovida a explosiva, altiva e vivificante ritmicidade, e ainda uma messiânica voz de textura espectral, diáfana e tribal. De exultar ainda o admirável artwork de ambiência ritualística que aponta os seus créditos autorais ao inconfundível ilustrador holandês Maarten Donders. Este é um álbum portador de uma misticidade profética que coloniza todos os territórios da nossa religiosidade. Deixem-se nebulizar e enfeitiçar pela alquimia celestial destilada de ‘Domonautas Vol. 2’ que encerra esta sublime saga superiormente trilhada por uma banda consagrada que conta já com uma década de existência.

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