Da cidade portuária e ensolarada
de Alicante (situada no sudeste de Espanha) chega-nos o novo trabalho
de longa duração de Domo, designado de ‘Domonautas Vol.1’ e que
fora muito recentemente lançado sob a forma física de vinil pela mão do selo
discográfico alemão Clostridium Records. Depois de no seu já longínquo
álbum de estreia (‘Domo’, 2011), por mim aqui desconstruído e reverenciado, terem indagado pelo universo de
um electrizante, psicotrópico e viajante Heavy Psych revestido e empoeirado a negrume
cósmico, estes espanhóis não só remodelaram a base elementar da sua formação –
passando de trio a quarteto – como são hoje influenciados e norteados por uma
outra estrela orientadora que os desenraizara das suas filosofias passadas e encaminhara
para os místicos domínios de um hipnótico, intrigante e épico Heavy Prog
de pés soterrados nos desertos árabes e olhar içado na vertiginosa direcção dos
astros. Simbolizando o primeiro capítulo de uma auspiciosa odisseia continuada já no próximo ano de 2020 com o anunciado lançamento do seu sucessor, ‘Domonautas
Vol.1’ adjectiva-se como uma obra bafejada e emoldurada a uma
religiosa sublimidade e banhada a uma resplandecente maviosidade que prontamente
nos converte em seus devotos discípulos. Aureolada por uma altiva, pomposa e
lustrosa sonoridade que nos faroliza, magnetiza e canoniza pela arenosa, tisnada e revoltosa
ondulação de um vasto oceano desértico pincelado a tonalidade sépia, este renovado registo de Domo vem comprovar e ostentar todo o seu avançado estado de simbiótica maturação enquanto banda. Envolvidos e revolvidos pela sua redentora, consagrada
e catalisadora musicalidade, somos colhidos e absorvidos pelas dialogantes
danças exuberantemente manifestadas por duas guitarras faraónicas de tirânicos,
messiânicos e opulentos Riffs de onde trepam e brotam desconcertantes, magnânimos
e atordoantes solos de ofuscante beleza, pela vultosa e rumorosa reverberação
de um baixo tonificado e sombreado a linhas pujantes, sinuosas e possantes,
pela cintilante explosividade detonada por uma bateria de emocionante, inventiva
e estimulante ritmicidade, e ainda pela egrégia liderança de uma voz fervilhante,
furiosa e infernal – perseguida por um ecoante e translúcido coro angelical –
que confere a ‘Domonautas Vol.1’ toda uma provocante ardência
que nos cauteriza e euforiza. O mirífico artwork de natureza profética e
homérica é da inconfundível autoria do talentoso ilustrador holandês
Maarten Donders. Estamos na honrosa presença de um álbum verdadeiramente
influente que ganha volumetria e simetria com o acumular de audições. Um disco fabuloso
– de essência aliciante, principesca, romanesca e triunfante – que recoloca Domo
numa destacada e prestigiada posição entre os mais consagrados nomes do panorama underground europeu.
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