Na madrugada
de 2019 reportava aqui o aparatoso atropelo perpetrado pela furiosa locomotiva
californiana Deathchant que me vitimizara, e hoje venho novamente acusar
o quarteto sediado em Los Angeles de reincidência. ‘Waste’
é o seu segundo álbum, muito recentemente lançado pela afamada discográfica RidingEasy
Records nos formatos digital, CD e vinil, que detona na atmosfera toda uma enérgica
dosagem de vulcânica adrenalina. Cruzando um musculoso, motorizado, destravado
e oleoso Heavy Rock cadenciado a um dinâmico coice Punk e sintonizado
na mesma frequência de Thin Lizzy e Motörhead, com um imperioso, melódico,
enigmático e umbroso Proto-Metal revolvido a efervescente psicadelismo, e
ainda um chamejante, corrosivo, eruptivo e excruciante Grunge de febril fogosidade
a fazer recordar Melvins e Corrosion of Conformity, este impactante
‘Waste’ estreita os contrastes entre o peso e a leveza, a desaceleração
e a aceleração, a ternura e a aspereza. De cabeça freneticamente rodopiante,
maxilares cerrados, olhar incendiado e alma atestada de pura excitação, somos
agredidos, mastigados e sacudidos pela magmática, enfática e transpirada
ferocidade de Deathchant à redentora, alucinante e enlouquecedora boleia
de duas guitarras gémeas e predatórias que se alinham na edificação de Riffs
rochosos, altivos, incisivos e volumosos, e desalinham na apressada condução de solos
virtuosos, ziguezagueantes, electrizantes e gloriosos, um trovejante baixo
pesadamente bafejado a linhas fibróticas, tensas, densas e hipnóticas, uma incansável
bateria ciclónica de batida impetuosa, galopante, provocante e estrondosa, e
ainda uma voz felina de rugidos denteados, viscerais, siderais e avinagrados.
São 30 minutos trilhados a alta rotação e climatizados a escaldante comoção. Este
‘Waste’ é um registo verdadeiramente ofensivo, intempestivo e demolidor
– de faca nos dentes e forte odor a gasolina – que me esporeara, estremecera e
empolgara do primeiro ao derradeiro tema. Agarrem firmemente as rédeas desta
possante cavalgada de espadas desembainhadas, narinas fumegantes e lanças empunhadas,
e deixem-se consumir pelas negras e infernais labaredas de Deathchant. No
final, restará um corpo ofegante, respingado de suor e com o coração desesperado,
agarrado ao gradeamento torácico. Um dos meus álbuns favoritos de 2021 está
aqui, no polvoroso desassossego destes quatro cavaleiros do apocalipse. Amotinem-se
nele.
Links:
➥ Bandcamp
➥ RidingEasy Records
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