sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Review: ⚡ MONO - 'Pilgrimage of the Soul' (2021) ⚡

★★★★

Da cidade-capital de Tóquio (Japão) chega-nos o apaixonante 11º álbum de estúdio superiormente magicado pelo reputado quarteto nipónico MONO, denominado ‘Pilgrimage of the Soul’ e lançado muito recentemente pela mão do independente selo discográfico berlinense Pelagic Records através dos formatos digital, CD e vinil. Com 22 anos de frutífera existência – repletos de uma respeitável discografia que os imortalizara como uma das mais marcantes referências dentro do universo Post-Rock – os MONO atingiram o pináculo da sua maturidade musical, e têm neste seu novo registo aquele que é muito provavelmente o meu trabalho favorito da banda. De âncora recolhida e velas içadas ao sabor de um emotivo, cinematográfico, reflexivo e melancólico Post-Rock de natureza instrumental e beleza orquestral, ‘Pilgrimage of the Soul’ navega pelas pacíficas águas de um interminável oceano vigiado e farolizado pela noite cósmica. De olhar enfeitiçado e embrumado por uma inquebrável expressão sonhadora, um sorriso genuíno que nos incha e ruboriza as bochechas, e ainda uma inextinguível sensação de plena ataraxia que nos massaja e prazenteia o espírito sedento por experienciar algo assim, somos magnetizados, embebidos, comovidos e canonizados pelo nirvana celestial que alvorece toda a extensão deste mirífico álbum. Este é um maravilhoso registo – de aura esperançosa, catártica e miraculosa – que perpetua o ouvinte num sedativo estádio de profunda introspecção. Mumificados pela fascinante teia instrumental de MONO, somos embriagados e namorados por duas guitarras de idioma astral que dedilham dramáticos, estéticos, reconfortantes e melódicos acordes – condimentados a profética sensibilidade e desdobrados numa triunfante escadaria em espiral – e desabrocham uivantes, rutilantes, delirados e ecoantes solos que nos desorientam nesta evolutiva e transformadora odisseia pelo Cosmos inexplorado, um baixo discreto de linhas ondeantes, densas, sombreadas e murmurantes, e uma expressiva bateria de pratos flamejantes e timbalões pulsantes que confere ritmo a esta admirável evasão consciencial. Num plano de complementaridade ao quarteto-base, é-me ainda essencial enaltecer todo um populoso coro de instrumentos convidados que contempla os mugidos tristemente belos dos violinos e violoncelos, os veludosos sopros do trompete, trombone e da corneta, e ainda as saltitantes notas choradas por um piano verdadeiramente enternecedor. São 58 minutos oxigenados a ofuscante deslumbramento que nos eclipsa os sentidos e transcende a alma até aos braços do transe espiritual. ‘Pilgrimage of the Soul’ é um álbum precioso, divino e lustroso – de esplendor imaculado – que decerto não deixará nenhum dos ouvintes recostado à indiferença. Permitam-se sorver e anoitecer pela frágil e anestésica ternura de MONO, e renascer num inquietante turbilhão de epidémica e transbordante esperança. A utopia aqui tão perto. Empoeirem-se nela.

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