domingo, 31 de outubro de 2021
sábado, 30 de outubro de 2021
sexta-feira, 29 de outubro de 2021
quinta-feira, 28 de outubro de 2021
terça-feira, 26 de outubro de 2021
segunda-feira, 25 de outubro de 2021
domingo, 24 de outubro de 2021
sábado, 23 de outubro de 2021
sexta-feira, 22 de outubro de 2021
Review: ⚡ Green Lung - 'Black Harvest' (2021) ⚡
Depois de
celebrado o seu impactante e transformador álbum de estreia ‘Woodland
Rites’ (aqui descortinado e imoderadamente reverenciado) no ano de 2019, eis
que o afamado quinteto londrino Green Lung – que num curtíssimo espaço
de tempo atingira uma popularidade meteórica – presenteia agora todos os seus
devotos peregrinos com o tão desejado lançamento do seu segundo trabalho de
longa duração, batizado de ‘Black Harvest’ e carimbado com o selo
da influente editora escandinava Svart Records através dos formatos físicos
de CD e vinil. Nesta sua nova colheita, maturada pela negra radiância e fermentada
por um fibroso, inflamante, excitante e imperioso Heavy Rock de celebração
ocultista, e um intrigante, sinuoso, pomposo e enfeitiçante Heavy Prog de pura musculatura setentista, o colectivo sacerdotal britânico prossegue com a sua
demoníaca liturgia de ornamentadas orações apontadas ao lado eclipsado da
religiosidade. Comungando e combinando a trevosa bruxaria de Black Sabbath,
a sedutora ardência de Boston, a hipnótica exuberância de Atomic
Rooster e a majestosa elegância de Deep Purple, este ‘Black
Harvest’ gravita, mumifica e sepulta o ouvinte num petrificante estádio
de ofuscante deslumbramento que o seduz, embevece e conduz pelos sombrios
contos de Edgar Allan Poe. São 44 minutos aspergidos por uma luciférica perversidade
e tóxica nebulosidade que nos dilatam as pupilas, empalidecem o semblante, sobreaquecem
o peito, e estremecem, enlutam e profanam o espírito. Deixem-se encarvoar,
converter e assombrar pela magia negra de Green Lung à esmagadora boleia
de uma liderante voz de pele avinagrada, melódica, vampírica e apimentada que fica a meio caminho entre um Ozzy Osbourne e um Ronnie James Dio,
uma dominante guitarra que se manifesta em monolíticos, heréticos, tirânicos e esculturais riffs de onde são centrifugados enlouquecedores vendavais de espalhafatosos, ziguezagueantes, berrantes e
vertiginosos solos, um luxuoso teclado de pesadas, densas, tensas e perfumadas
harmonias, um fibroso baixo reverberado a linhas quentes, obesas, coesas e magnetizantes,
e uma pujante bateria atestada de testosterona que esporeia, vergasta e
incendeia toda esta cavalgada infernal com altiva e expressiva explosividade. O
fascinante vitral de natureza bíblica que compõe este colorido, pitoresco e soberbamente
detalhado artwork aponta os seus créditos autorais ao talentoso ilustrador
Richard Wells. Alcanço o final deste irresistível ritual de alma integralmente
atordoada e conquistada. ‘Black Harvest’ é um álbum tragicamente belo.
Um registo intensamente portentoso que não deixará ninguém recostado à
indiferença. Está assim encontrada a banda-sonora perfeita para climatizar o Halloween
que se avizinha. E, claro, uma das obras mais sublimes do ano, que aguardo com
sísmico anseio poder experienciar ao vivo no tão salivado verão português de 2022 (mais
concretamente na 10ª edição do festival Sonic Blast). É demasiado fácil
cair nesta pecaminosa tentação e selar um acordo de fidelização com o príncipe
das trevas.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Svart Records
quinta-feira, 21 de outubro de 2021
quarta-feira, 20 de outubro de 2021
segunda-feira, 18 de outubro de 2021
domingo, 17 de outubro de 2021
sábado, 16 de outubro de 2021
quinta-feira, 14 de outubro de 2021
quarta-feira, 13 de outubro de 2021
Review: ⚡ Kadabra - 'Ultra' (2021) ⚡
Proveniente da cidade de Spokane
– metrópole localizada no estado americano de Washington – chega-nos ‘Ultra’,
o assombroso álbum de estreia do recém-formado tridente ofensivo Kadabra. Lançado
com o rótulo da produtiva companhia discográfica de origem romana Heavy
Psych Sounds através dos formatos físicos de CD e vinil, e escudado num intrigante,
nebuloso, umbroso e enfeitiçante Proto-Doom de charme ocultista e num fogoso,
enérgico, narcótico e musculoso Heavy Rock de galope setentista,
este surpreendente primeiro trabalho do jovem power-trio comunga a negra
liturgia de Black Sabbath, a ociosa toxicidade de Dead Meadow, a enigmática
hipnose de Uncle Acid & the Deadbeats e ainda a implacável cavalgada à boa moda de Kadavar. A sua sonoridade mística, alucinógena, erógena e ritualística
possui o dom de ensopar o ouvinte nas nimbosas águas de um anestésico, musguento
e fantasmagórico pântano orvalhado a temulenta e reflexiva melancolia, como de
o inflamar num escaldante, vulcânico e borbulhante caldeirão chamejado a
intensa ebulição. E é nesta ténue linha fronteiriça, que desagrega a lisergia
da euforia, a quietude da efervescência, a frescura da ardência, que ‘Ultra’
se agiganta e nos sombreia com dominante influência. De rosto pálido, pupilas
dilatadas, boquiabertos, respiração travada e espírito integralmente soterrado nas abissais
profundezas da narcose, somos centrifugados, entontecidos e naufragados numa vertiginosa
náusea de efeitos psicotrópicos onde ressoam e ecoam uma messiânica guitarra de
gordurosos, bolorentos, fumarentos e montanhosos Riffs – encrostados pelo magmático e espinhoso efeito Fuzz – de onde são entornados aturdidos, alcoolizados,
esvoaçantes e distorcidos solos, um baixo polposo de reverberação quente,
densa, tensa e bafejante, uma altiva, expressiva e magnetizante bateria escoiçada
a duas velocidades contrastantes, e ainda uma voz espectral, ácida, diabrina e
visceral que sobrevoa toda a virulenta atmosfera de Kadabra. São 45
minutos farolizados por um ofuscante feitiço impossível de quebrar. Deixem-se
cair nesta irresistível tentação, diluam-se neste viscoso torpor, e
experienciem – num imperturbável estádio de ébrio sonambulismo – este potente opiáceo
sonoro.
Links:
➥ Bandcamp
➥ Heavy Psych Sounds
terça-feira, 12 de outubro de 2021
segunda-feira, 11 de outubro de 2021
sábado, 9 de outubro de 2021
sexta-feira, 8 de outubro de 2021
Review: ⚡ Wooden Fields - 'Wooden Fields' (2021) ⚡
Três amigos
músicos, provenientes de três das mais incontornáveis referências dentro da populosa
Rock scene sueca (Witchcraft, Siena Root e Three Seasons),
uniram esforços e dialogaram inspirações para fabricar e desancorar este novíssimo
projecto conjunto, intitulado Wooden Fields, e o seu muitíssimo
aguardado álbum de estreia – de designação homónima – vê finalmente hoje a luz
do dia através dos formatos digital, de CD e vinil com o selo da companhia
discográfica italiana Argonauta Records. Combinando um inflamante, ritmado,
apimentado e enleante Heavy Blues de brilho vintage, um fibroso,
simétrico, estético e esplendoroso Hard Rock de roupagem setentista,
e ainda um ensolarado, melodioso, cheiroso e aveludado Psychedelic Rock
de texturas caramelizadas, a florida, charmosa, libidinosa e encerada
sonoridade de ‘Wooden Fields’ passeia-se de forma triunfante,
deslumbrante e orgulhosa pelos sete temas que compartimentam esta preclara obra
do talentoso tridente escandinavo. São 39 minutos banhados de uma mística, reparadora,
libertadora e ritualística resplandecência, de odor e calor analógicos, que nos gravita e
em nós tudo remexe, cura e incita. Baloiçando entre electrizantes, dinâmicas, psicadélicas
e estonteantes cavalgadas locomovidas a febril excitação, e açucaradas,
enternecedoras, relaxadas e transformadoras baladas embebidas numa comovente atmosfera
Soul, esta esmerada estreia de Wooden Fields provocara e
imortalizara em mim um sorriso amarelecido pela doce nostalgia, uma expressão
sonhadora que me envidraçara e eclipsara o olhar, e uma imersiva paz de espírito impossível
de perturbar. Na composição deste mirífico álbum tricotado a irretocável
perfeição ziguezagueia uma venerável guitarra de sumptuosos, lânguidos e deleitosos
Riffs e solos alucinantes, caleidoscópicos e intoxicantes, murmura um
baixo obeso de linhas fluídas, pululantes e lubrificadas, tiquetaqueia uma sensacional
bateria de ritmicidade acrobática, desembraçada e enfática, e sobrevoa uma portentosa
voz de pele melosa, afrodisíaca e volumosa que nos entoa palavras bordadas a
esperança. ‘Wooden Fields’ é um registo sem impurezas que me preenchera as medidas.
Um disco genuinamente belo, sincero, de propriedades terapêuticas, que
reconfortará e extasiará todo aquele que nele ingressar. Raras vezes a doçura e a formosura conviveram tão de perto como o fazem aqui. Permitam-se cortejar,
embevecer e viciar neste sublimado oásis musical, e testemunhem com deífico
fervor todo o profético esplendor de um dos discos mais magistrais de 2021.
Links:
➥ Facebook
➥ Streaming
➥ Argonauta Records
quarta-feira, 6 de outubro de 2021
segunda-feira, 4 de outubro de 2021
Review: ⚡ Zack Oakley - 'Badlands' (2021) ⚡
Da cidade
costeira de San Diego (Califórnia) chega-nos um dos álbuns por
mim mais aguardados do ano. ‘Badlands’ dá nome ao primeiro álbum
a solo de Zack Oakley (mais conhecido de guitarra e microfone empunhados
ao serviço dos irreverentes Joy) e acaba de ser lançado tanto em formato
digital (com a possibilidade de download gratuito) através da sua página de Bandcamp oficial, como em formato
físico de vinil com o carimbo do recém-formado selo discográfico caseiro Kommune
Records. Contando com a importante colaboração de um populoso bando composto
por habilidosos músicos amigos – caras bem conhecidas de consagradas bandas
locais, tais como Psicomagia, Harsh Toke, Ocelot, Volcano
e Red Wizard – o talentoso multi-instrumentista Zack Oakley tem em
‘Badlands’ um sumarento cocktail sonoro, colorido, apaladado
e gaseificado por um vistoso, serpenteante, cativante e libidinoso Blues
Rock de balanço Boogie, aroma a Tex-Mex e roupagem setentista,
um electrizante, fogoso, lustroso e delirante Psychedelic Rock de
elevada toxicidade, estética revivalista e clima West Coast, e ainda um arejado,
reflexivo, lenitivo e ensolarado Psychedelic Folk de adornada moldura Western
e uma doce fragância primaveril. A sua sonoridade verdadeiramente apaixonante, afrodisíaca
e contagiante – sintonizada na mesma frequência de clássicas referências como ZZ
Top, Eagles, James Gang, The Allman Brothers Band, Lynyrd
Skynyrd, Black Oak Arkansas, Cactus, Humble Pie, The Outlaws
e Foghat – embarca o ouvinte numa transformadora road trip pelas
poeirentas estradas que estriam o deserto do Arizona rumo ao México. De olhar
ofuscado pelo vibrante Sol que se debruça no inatingível firmamento, narinas
dilatadas na aspiração da revitalizante brisa desértica, punhos cerrados no
volante de um barulhento muscle car, e espirito embriagado de mescalina,
somos embalados e consagrados num nirvânico vórtice de visões caleidoscópicas e
ambiências utópicas. São 40 minutos de extasiante deslumbramento sob a
psicotrópica influência de uma adorável guitarra de agradáveis, vaidosos, radiosos
e afáveis Riffs de onde debandam venenosos, alucinógenos, uivantes e
sinuosos solos distorcidos pela virulenta efervescência do pedal wah-wah,
uma voz xamânica – ocasionalmente abraçada por um espectral, mélico, luminoso e
sidérico coro vocal – de pele avinagrada, diabrina, hipnótica e aveludada, um
baixo flácido de murmúrios vagueantes, relaxados, bocejados e ondulantes, uma eloquente
bateria a galope de uma ritmicidade criativa, desembaraçada, leve e imersiva,
um teclado fabular de frescos, melódicos, opulentos e romanescos mugidos, e ainda
uma chamativa harmónica de sopros arenosos, incisivos, altivos e berrantes. ‘Badlands’
é um registo imensamente libertador. Um álbum extremamente sedutor, de fácil
digestão e imediata veneração. Icem as velas da espiritualidade ao sabor da
triunfante estreia a solo de Zack Oakley, e comunguem este poderoso peyote
de absorção auditiva, massagem cerebral e evasão consciencial. Um dos momentos mais
altos do ano musical de 2021 está aqui, no diluviano psicadelismo que tinge de
ofuscante coloração o lamacento sangue que corre pelas largas artérias do rio Mississippi onde fora forjado e chorado o velho Delta-Blues, e desagua nas douradas areias que pavimentam as paradisíacas
praias californianas. Bebam-no e reverenciem-no sem moderação.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Kommune Records