domingo, 30 de outubro de 2022
sábado, 29 de outubro de 2022
sexta-feira, 28 de outubro de 2022
Review: 🍂 Edena Gardens - 'Edena Gardens' (2022) 🍂
O inesperado tridente
dinamarquês constituído por Nicklas Sørensen (Papir), Martin Rude (Sun River)
e Jakob Skøtt (Causa Sui) decidira unir esforços criativos e alavancar
um novo e muito promissor projecto chamado Edena Gardens. Carimbado com
o selo de qualidade da El Paraiso Records e integralmente lançado hoje
mesmo através dos formatos LP, CD e digital, este libertador, bonito e inspirador
álbum de estreia da recém-nascida formação escandinava passeia-se livremente pelas
bucólicas planícies de um outonal, reflexivo, intuitivo e magistral Contemporary
Jazz a fazer recordar as cinematográficas atmosferas patenteadas pelo
talentoso guitarrista dinamarquês Jakob Bro. Contando ainda com os
cheirosos temperos de um lenitivo, arejado, contemplativo e ternurento Psychedelic
Folk de raiz sessentista, este paradisíaco e pardacento sonho
musicado, intitulado ‘Edena Gardens’, conserva um sempiterno crepúsculo de
morno bafo solar que pincela os céus de gradientes e inanimados tons róseos. De corpo baloiçante,
olhar pensativo, sorriso desabrochado e espírito eclipsado por um feitiço
reinante, embalamos numa ataráxica hipnose pelo universo onírico deste
sublimado álbum. Soberbamente dedilhado por uma guitarra gentil de acordes ecoantes,
cristalinos, esmaecidos e inebriantes que se espreguiçam e vagueiam livre e
graciosamente, levemente sombreado por um baixo nocturno de linhas sedosas,
fluídas, compenetradas e vagarosas que sussurra ao nosso ouvido, e
cuidadosamente costurado por uma bateria tribalista, de absorvente swing
jazzístico, que se bamboleia e formoseia por entre pratos cintilantes e
tambores pulsantes, Edena Gardens representa toda uma balsâmica viagem de
espírito zen que nos sorve, seduz, comove e conduz ao nirvânico oásis de
afago e consagração sensorial. Um disco harmonioso, salvífico e despretensioso,
que vive da frágil sensibilidade e irresistível voluptuosidade, que nos
entorpece, massaja e embevece do primeiro ao derradeiro tema. São 44 minutos incensados e orvalhados por uma imersiva e embriagante placidez que nos sufoca de inenarrável prazer.
Um angélico e reconfortante anestésico que nos faz adormecer num purificante limbo e
desejar não mais dele despertar.
Link:
➥ El Paraiso Records
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
Review: 🐓 Moundrag - 'Hic Sunt Moundrages' (2022) 🐓
O peculiar power-duo
francês Moundrag – formado pelos irmãos Colin e Camille –
acaba de descortinar o seu primeiro trabalho de longa duração, intitulado ‘Hic
Sunt Moundrages’ e lançado nos formatos LP, CD e digital através do carimbo
discográfico da sua conterrânea Modulor Music. Conduzida e nutrida por
um pomposo, dançante, extravagante e glorioso Heavy Prog inspirado em
icónicas bandas do território setentista como Deep Purple, Atomic
Rooster, YES, Genesis e Emerson, Lake & Palmer,
magicada a experimentalismo sónico e centrifugada a psicadelismo caleidoscópico,
esta caprichada obra do talentoso dueto enraizado na cidade francesa de Rennes
exala toda uma refrescante, harmoniosa, fantasmagórica e contagiante fragância
sonora que não deixará ninguém indiferente. Nas asas de um dramático, enfático e majestoso
órgão que se agiganta em intrigantes, furiosos, ostentosos e esvoaçantes
bailados capazes de nos rodopiar e fazer delirar, nas circenses acrobacias de uma talentosa, estonteante, tonitruante e
aparatosa bateria que nos presenteia e incendeia com vistosos e labirínticos solos
de apurada tecnicidade e destravada celeridade, e na aristocrática docilidade de vocais clericais, proféticos,
estéticos e astrais que nos descrevem imersivas histórias de uma galopante distopia
causada pelo Homem, somos envolvidos e revolvidos na serpenteante e revoltosa corrente
sanguínea de ‘Hic Sunt Moundrages’ sem nunca encontrarmos uma porta de
saída. São 42 minutos compartimentados por cinco temas – sendo que o derradeiro
encerra toda uma reinante, extensa, opulenta e edificante obra-prima de ousada composição,
bem demonstrativa de toda a imperial sagacidade e imperturbável cumplicidade que esta irmandade respira – que nos enfeitiçam e atiçam sem qualquer misericórdia. Este é
um álbum audacioso, anguloso e magnânimo – climatizado a miraculosa beleza e texturizado a propulsiva
destreza – que nos esbranquiça o semblante, dilata as pálpebras e bronzeia o
nosso peito de um dourado revivalismo. Uma imponente orquestra, superiormente
musicada por apenas dois músicos, que nos engole e impregna de inquebrável fascinação.
Uma das mais impactantes surpresas musicais do ano está aqui, na irresistível,
intocável e proeminente nobreza de Moundrag. Saúdem os Reis.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Modulor Music
Os irmãos Moundrag vão estar de visita a Portugal nos próximos meses de
novembro e dezembro com quatro datas assinaladas. Apontem nas vossas agendas:
30/11 – Woodstock 69, Porto
01/12 – ADAO, Barreiro
02/12 – Texas Bar, Leiria
03/12 – Rock with Benefits, Fafe
terça-feira, 25 de outubro de 2022
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
domingo, 23 de outubro de 2022
sexta-feira, 21 de outubro de 2022
Review: 🐉 WIZRD - 'Seasons' (2022) 🐉
Dentro do
espectro Jazz que conta com ousadas, mas bem-sucedidas, ramificações a sub-géneros do Rock,
a cidade-capital norueguesa Oslo respira muito boa saúde e recomenda-se
vivamente. Bandas como Kanaan, Sex Magick Wizards, Soft Ffog
e Krokofant perfilam-se como sendo algumas das minhas bandas locais de
eleição, e agora posso acrescentar uma nova a esta restrita lista de notáveis: WIZRD.
Este quarteto de estudiosos da música Jazz – constituído por integrantes de algumas das bandas já supracitadas – acaba de lançar o seu delicioso, sumarento e
auspicioso álbum de estreia ‘Seasons’, pela mão do influente selo
discográfico norueguês Karisma Records através dos formatos LP, CD e
digital. Combinando um enleante, festivo, criativo e triunfante Progressive
Rock de inspirações colhidas a históricas referências britânicas como Gentle
Giant, Genesis e Emerson, Lake & Palmer com um aliciante,
espirituoso, sorridente e sumptuoso Indie Rock solarizado por irresistíveis
melodias, a sui generis sonoridade de ‘Seasons’ é ainda ornamentada
e envernizada por uma fresca e colorida aura jazzística que lhe confere toda
uma afrodisíaca e paradisíaca elegância. A passo trôpego entre a edénica simplicidade
e a caótica complexidade, WIZRD passeia-se livremente – de forma
graciosa, luxuosa e envaidecida – pelos seus cheirosos, frondosos e labirínticos
jardins sonoros. Na condução desta admirável digressão, musicada a sublimada
beleza e transbordante emoção, pelo seráfico universo de ‘Seasons’, estão
vocais joviais de pele aveludada, límpida e açucarada, uma guitarra esplendorosa
que tanto se apazigua em delgados, escorregadios e desanuviados acordes, como
se desassossega numa escadaria de solos electrizantes, ziguezagueantes e cerebrais, um baixo magnetizante
de pulso fluído, ritmado e saltitante, teclados quiméricos de bailados
polposos, faustosos e celestiais, e uma bateria esdrúxula de ritmicidade
precisa, inventiva e estonteante que provocara a constante salivação dos meus
ouvidos. São 43 minutos atestados de incessante deslumbramento, incensados a consumada
venustidade, condimentados por climas contrastados e compartimentados por caramelizadas
baladas de espírito bucólico e destravadas galopadas à rédea solta. Um álbum
verdadeiramente preclaro que me ofuscara e conquistara sem a mais pequena
timidez. ‘Seasons’ simboliza a técnica e o sentimento ao serviço da
música. Um álbum delicado, ensolarado e bem-disposto que nos contagia e
extasia. Confortem-se neste oásis musical de afago sensorial, e vivenciem com
detida fascinação um dos meus álbuns favoritos de 2022.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Karisma Records
quinta-feira, 20 de outubro de 2022
quarta-feira, 19 de outubro de 2022
terça-feira, 18 de outubro de 2022
Review: 🪐 ZONG - 'Astral Lore' (2022) 🪐
Cinco anos
após o nascimento do seu homónimo álbum de estreia (aqui trazido e imoderadamente
aclamado), o tridente australiano ZONG está finalmente de regresso com o
lançamento do segundo trabalho, intitulado ‘Astral Lore’ e editado a
duas mãos nos formatos físicos de CD-R e vinil pela britânica Cardinal Fuzz
(responsável pela distribuição no Reino Unido e Europa) e pela norte-americana Little
Cloud Records (responsável pela distribuição em solo americano). Prosseguindo
a sua emancipadora, exploratória e conquistadora odisseia cósmica – farolizada
pelos fogosos e pulsantes viveiros estelares, empoeirando-se nas multicoloridas
e fantasmagóricas nebulosas, e driblando a gravidade dos solitários astros que
se vão desenterrando e revelando no negro solo que pavimenta um firmamento repetidamente desdobrado
– a banda sediada na cidade costeira de Brisbane (Queensland) tem
em ‘Astral Lore’ um álbum climatizado por um ambiental, místico, ritualístico
e celestial Heavy Psych de umbrosos ecos Black Sabbath’icos
e essência instrumental que nos desancora a consciência terrestre, escancara as
portas da percepção, e transcende aos mais altos céus do Cosmos bocejante. De
olhar semi-selado, cabeça aturdida e espírito embriagado, somos eclipsados e magnetizados
pela mântrica sonoridade de ZONG, à terapêutica e transformadora boleia
de uma guitarra persa que se arvora em proféticos, serpenteantes, deslumbrantes
e esotéricos Riffs de onde esvoaçam solos ecoantes, ácidos, entorpecidos
e intoxicantes, um baixo magnetizante de linhas murmurantes, sombreadas, pausadas
e ondeantes, e uma bateria flamejante de ritmicidade expressiva, criativa e enleante.
O fantástico artwork de vistoso esplendor cósmico pertence ao virtuoso
ilustrador - e baterista da banda - Henry Bennett. São 44 minutos de reflexiva,
etérea e progressiva levitação, embalados e baralhados num atordoante vórtice
centrifugado em slow-motion, que nos desagua na ataráxica e alienígena vacuidade
sideral. Um vertiginoso mergulho nas profundezas da lisergia, onde todos os
nossos sentidos desmaiam num perfeito oásis sensorial. Petrificados num imperturbável
estádio de sonambulismo, jornadeamos pelos desertos cósmicos de ‘Astral Lore’
com transbordante fascinação. Uma sagrada peregrinação de consagração
espiritual que nos encaminha aos braços do Nirvana. Vivenciem com detida veneração
este renovado capítulo da mágica epopeia ZONG, e regressem dele completamente regenerados
e depurados.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Cardinal Fuzz
➥ Little Cloud Records
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
domingo, 16 de outubro de 2022
sábado, 15 de outubro de 2022
sexta-feira, 14 de outubro de 2022
quinta-feira, 13 de outubro de 2022
Review: 🌋 Smokes of Krakatau - 'Smokes of Krakatau' (2022) 🌋
Oriundas da Polónia
– a meca europeia da música Doom – chegam-nos as pesadas, fumarentas, lodacentas
e esverdeadas ressonâncias nasaladas pelo power-trio Smokes of
Krakatau com o seu impactante álbum de estreia, de designação homónima e lançado
através dos formatos digital e CD numa edição autoral. Norteada por um resinoso,
demoníaco, canábico e montanhoso Psychedelic Doom de mãos dadas a um imperioso,
ardente, inclemente e majestoso Proto-Doom, a pardacenta e empolada
sonoridade de ‘Smokes of Krakatau’ vem ainda condimentada com ofuscantes
feixes de uma endeusada luzência psicadélica e espacial que lhe confere toda
uma aura imersiva, reflexiva e espiritual. Num constante pendulo entre a seráfica
lisergia e a vulcânica euforia, a densa negrura e a leve brancura, a barulhenta
tempestade e a surda bonança, a sangrenta impetuosidade e a invernal acalmia,
somos embalados e climatizados pelos contrastados climas e estados de espírito
do álbum. Uma gratificante e redentora experiência sensorial que não deixará
ninguém indiferente. Chamejado por uma guitarra soberana que se robustece em dominantes,
flamejantes, monolíticos e intoxicantes Riffs – gaseificados, distorcidos
e escaldados a crepitante efeito Fuzz – e embevece em solos espectrais, lampejantes,
leves e ecoantes, murmurado pelo quente bafo de um baixo carregado a linhas
ventosas, nervudas, sisudas e poderosas, galopado por uma enérgica bateria de
ritmo endiabrado, incisivo, expressivo e desenfreado, e rugido por uma voz
felina, agressiva, urticante e abrasiva, este primeiro registo de longa duração,
forjado pelo tridente sediado na cidade de Poznań, encerra um temível vulcão
em vistosa erupção que gorgoleja magma polposa, faúlhas incandescentes, e
incensa toda a atmosfera de vapores sulfurosos que se agigantam e nos encobrem.
O fantástico artwork que dá rosto a ‘Smokes of Krakatau’ aponta
os seus créditos de autor à ilustradora polaca Maryjka Babiak. São 57
minutos atestados de forte actividade sísmica que estremecerá e estarrecerá o ouvinte.
Uma estreia gloriosa e um importante contributo para o enriquecimento da já
abastada e portentosa cena Doom que há muito governa a Polónia.
quarta-feira, 12 de outubro de 2022
segunda-feira, 10 de outubro de 2022
domingo, 9 de outubro de 2022
sábado, 8 de outubro de 2022
sexta-feira, 7 de outubro de 2022
Review: ⛧ Lord of Confusion - 'Evil Mystery' (2022) ⛧
Da cidade
portuguesa de Leiria chegam-nos as ressonâncias luciféricas do druídico quarteto
Lord of Confusion que acaba de exumar o seu álbum de estreia ‘Evil
Mystery’. Lançado a duas mãos pela editora lusa Gruesome Records
(responsável pela distribuição em solo europeu) e pela companhia discográfica norte-americana Morbid and Miserable Records (responsável pela distribuição
em solo americano) nos formatos CD, cassete e digital, ‘Evil Mystery’
vem incensado e atormentado por um enfeitiçante, ocultista, ritualista e
intrigante Psychedelic Doom em formato de pentagrama e de reverenciadas orações
arremessadas para o lado eclipsado da religiosidade. A sua sonoridade altiva, amaldiçoada,
vampírica e opressiva – lacrimejada em tons purpúreos e vigiada de perto por
uma pesada e asfixiante obscuridade – enluta e profana a alma do ouvinte, embrulhando-a
numa inescapável teia. De olhar encovado, semblante esbranquiçado, queixo
tombado e espírito pasmado, ingressamos nas abissais profundezas de um sono
mesmérico, sem garantias de um retorno, que nos passeia pelas distópicas,
nebulosas e melancólicas paisagens líricas de Edgar Allan Poe. No
borbulhante, fogoso e fumegante caldeirão onde a magia negra – superiormente
liderada pelos Lord of Confusion – é cozinhada, emergem os pálidos, melódicos,
frígidos e messiânicos vocais, ocasionalmente substituídos pelo surgimento de rugidos
espinhosos, violentos, ferrugentos e cavernosos, que lideram este hermético rito, um
litúrgico teclado de melodias enigmáticas, atemorizantes, magnetizantes e fantasmagóricas
que ensombram toda a tensa e misantrópica atmosfera do álbum, uma guitarra imperiosa
que se hasteia em maléficos, amargurosos, infecciosos e esotéricos Riffs,
e redemoinha em dilacerantes, ácidos, atordoantes e alucinógenos solos, um
baixo denso de feições sisudas e linhas inchadas, ventosas, rugosas e musculadas, e uma bateria impetuosa
que esporeia, sobreaquece e bombardeia esta enlouquecedora paranoia de
desígnios obscurantistas. São 45 minutos de uma fúnebre radiação, farolizada a
flamejantes candelabros, que nos persegue, eclipsa e afoga na trevosa e pantanosa
pretura. ‘Evil Mystery’ é um álbum verdadeiramente desorientador, impiedoso
e avassalador que nos soterra num penetrante estádio de inquebrável sonambulismo,
atormentado por insanas e perversas diabruras bruxuleantes. Encarvoem-se nele.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Gruesome Records
➥ Morbid and Miserable Records
quinta-feira, 6 de outubro de 2022
quarta-feira, 5 de outubro de 2022
terça-feira, 4 de outubro de 2022
Review: ⚓️ Mythic Sunship - 'Light/Flux' (2022) ⚓️
É justo
começar por referir que os dinamarqueses Mythic Sunship são uma das
minhas bandas contemporâneas de eleição, e, portanto, foi com um sentimento de
frustração que reagi ao inesperado cancelamento da sua actuação (por motivos de
saúde) na passada edição do SonicBlast Fest, adiando para data indefinida
a minha estreia no que diz respeito a experienciá-los ao vivo. Com mais de uma
década de produtiva existência onde plantaram e colheram duas mãos cheias de
álbuns, o quinteto escandinavo acaba de nos presentear com o lançamento do seu
décimo trabalho, intitulado ‘Light/Flux’ e promovido
sob a alçada do renomado selo discográfico nova-iorquino Tee Pee Records
através os formatos físicos de LP e CD. Navegando pelas tranquilas águas de um pastoral,
contemplativo, imaginativo e ambiental Psychedelic Rock com vista para a
perpétua noite astral, e pelas areias movediças de um extravagante, sedutor,
libertador e deslumbrante Avant-Garde Jazz (in)disciplinado por um exótico
experimentalismo, a fluída, etérea e lânguida sonoridade de ‘Light/Flux’
acaba invariável e ocasionalmente por desaguar nas paradisíacas praias do seu autoproclamado
Anaconda Rock, caracterizado por Riffs volumosos, musculosos e
serpenteantes que nos caçam, abraçam e asfixiam. De olhar semi-selado, revestido
a uma embriagada expressão sonhadora, sorriso inquebrável, corpo baloiçante e
espírito enternecido por um transbordante estádio de perfeito bem-estar, somos
envolvidos, sublimados e canalizados pelos nirvânicos trilhos de Mythic
Sunship sem a mais pequena vontade deles regressar. São 43 minutos onde as
distâncias entre a gélida e vaporosa dormência e a vulcânica e gasosa efervescência
se encurtam, embalando o ouvinte numa extasiante hipnose de beleza crepuscular.
Farolizados pelos estonteantes ziguezagues rabiscados por um irreverente saxofone
de sopros gritantes, luminosos, sedosos e mirabolantes, pelos cativantes diálogos
travados entre duas guitarras aquosas e ecoantes que se perseguem em admiráveis,
esvoaçantes, encaracolados e inesgotáveis solos de toxicidade a perder de vista,
pelos polposos murmúrios bafejados por um ondeante baixo de linhas magnéticas, sombreadas,
oleadas e elásticas, e ainda pelo imersivo tic-tac de uma bateria soberbamente
jazzística que trauteia entre o quente brilho dos pratos, o acrobático rufar da
tarola e o galope tribal dos timbalões, somos engolidos pela negra boca do
Cosmos e deixados à deriva na infindável vacuidade. ‘Light/Flux’ é um
álbum de natureza anestésica, arejada, dilatada e sidérica que nos enleia e inebria
com a sua reconfortante, quimérica e enfeitiçante maviosidade. Recostem-se
confortavelmente e dissolvam-se tranquilamente no universo de um álbum
sem fundo, oxigenado a incontáveis propriedades terapêuticas.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Tee Pee Records